Arquivos Mensais: outubro \31\America/Sao_Paulo 2016

O currículo pode induzir o comportamento colaborativo? Veja como

Como já informei em posts anteriores, estamos finalizando uma nova proposta curricular para o Município de Sobral, no semi-árido do Estado do Ceará, a rede de ensino público municipal que apresenta os melhores resultados no Brasil.

Para produzir um documento com a importância e competência que uma rede com excelentes resultados como a de Sobral requer, precisamos estudar em profundidade uma variedade de documentos curriculares de países desenvolvidos E COM BOM desempenho no Pisa. A intenção era otimizar a enorme energia investida nos alunos sobralenses por meio de objetivos pedagógicos bem mais ambiciosos.

Esse estudo nos deu a oportunidade de descobrir padrões de caraterísticas comuns a todos os países estudados, que apareciam de forma implícita ou explícita. Tudo o que conseguimos identificar para a disciplina de Língua portuguesa trouxemos para o documento de Sobral de forma explícita e detalhada. Esse cuidado, em si, já é uma importante quebra de paradigma para o ambiente de produção curricular brasileiro.

Hoje eu trago um deles: apresentar habilidade de interação cordial e respeitosa dentro do eixo de ORALIDADE.

Antes de seguir, gostaria de explicar um outro passo importante que demos intencionalmente na produção do currículo de Sobral: definir de maneira bem clara as “responsabilidades” de cada etapa de ensino. Assim, a pré escola deve “introduzir o aluno lógica escolar acadêmica”, ou seja, mostrar ao aluno que a escola é um lugar diferente da casa dele, no qual há regras, que essas regras valem para todos, que existem justamente para o bem de todos, que há uma nova autoridade e que ela se comporta de maneira diferente dos adultos de sua família. Além disso, mesmo, que com brincadeiras, há uma intenção de ensinar “coisas” neste novo lugar cheio de amiguinhos. Ou seja, o aluno precisa compreender, com muito respeito e acolhimento das suas características individuais, que a escola não é a sua casa e que ali o seu comportamento talvez tenha que passar por algumas mudanças.

Assim, para a ORALIDADE, decidimos que até o meio do ensino fundamental I os alunos já deveriam dominar a competência/expectativa “Respeitar as regras de cortesia e de interação”, que no 3º ano é descrita da seguinte forma:

Respeitar as regras de cortesia, combinadas pelo grupo, nas diversas situações de interação,

a) ouvindo sem interromper;
b) demonstrando atenção no interlocutor;
c) adequando a sua linguagem corporal;
d) pedindo a palavra para expor suas ideias;
e) modelando o tom de voz nas interações comunicativas;
f) utilizando as formas de tratamento adequadas;
g) colaborando com a elaboração do conjunto dos valores e das regras de convivência da classe, escola e/ou rede;
h) evitando o uso de palavras com potencial ofensivo;

i) reagindo de forma pacífica diante de conflitos;
j) respeitando a opinião dos demais.

Eu sei, eu sei, muitos adultos não dominam essas habilidades, mas é justamente isso que queremos mudar, certo?

Uma outra expectativa que inserimos no currículo de Sobral foi “Realizar apresentações orais”, que descrevemos conforme abaixo que mostra o para essa expectativa finalizado no 9º ano:

Realizar apresentações orais planejadas e/ou ensaiadas previamente,

 

a) desenvolvendo eloquência;

b) utilizando diferentes tipos de recursos, quando necessário;

c) assegurando introdução, desenvolvimento e breve conclusão, no caso de explanação de trabalhos;

d) expondo, detalhadamente, os temas abordados em uma sequência lógica;

e) adequando a linguagem ao contexto;

f) integrando o espectador à apresentação;

g) apresentando, quando necessário, seu posicionamento diante da opinião de outros, de forma respeitosa;

h) sintetizando os pontos abordados.

Eu sei, eu sei, muitos adultos que a gente conhece também não conseguem fazer apresentações dessa maneira, certo?

Para vocês, queridos leitores, perceberem como é importante ter um currículo AMBICIOSO, COERENTE, CLARO E COM PROGRESSÃO!

Todas as escolas do Brasil podem seguir esse tipo de coisa. Quem quiser ter acesso ao currículo em sua versão preliminar é só escrever para mim em ilona@exequi.com

Obrigada!

 

Cuidado com o que seus filhos fazem com as “telinhas”

Na semana passada a Associação Americana de Pediatria divulgou novas recomendações para o uso de telas e tecnologia por crianças. Elas deixam claro que os adultos da casa devem determinar limites territoriais e temporais para o uso de telas para as crianças e para toda família. O uso indiscriminado de telas e tecnologia pode ter impactos negativos na saúde, educação e interação social de seres humanos, das crianças em particular.

A exposição excessiva à TV sempre houve e é parte de um quadro de negligência parental já conhecido por todos nós. Crianças que ficam fechadas em casa na frente da TV, comem diante da TV, brincam pouco, não lêem, não interagem entre si não são exemplos desconhecidos das sociedades atuais. Ainda mais no Brasil, onde 100% dos lares têm acesso a TV aberta, em um contexto de baixa escolaridade e aspirações culturais e baixa renda. O abuso de TV e outras telas não é exclusivo de ambientes de pobreza, mas quem não pode contar com opções variadas de lazer fica mesmo refém das telinhas.

Com o advento das tecnologias interativas e dos inúmeros casos de cyber bullying e até das recorrentes tragédias resultantes de jogos online que expõem as crianças a desafios perigosos, como o que vitimou um menino de 13 anos nos últimos dias, o abuso das telinhas tem chamado mais atenção da sociedade, dos médicos e educadores.

O que era uma babá eletrônica, agora virou uma grande ameaça. Assim, os médicos da AAP fazem recomendações gerais para o uso de “telas”. Qualquer tela que faça as crianças brincarem menos, dormirem menos, interagirem menos e comerem de forma inconsciente e compulsiva.

São 3 documentos que deveriam ser lidos pelos pais (estão em inglês) e, particularmente pelas autoridades educacionais e médicas brasileiras para que possam recomendar e monitorar as famílias em relação ao uso de telinhas na vida das pessoas – o comportamento das crianças e jovens reflete o dos adultos responsáveis por elas

Media e as mentes jovens:

http://pediatrics.aappublications.org/content/early/2016/10/19/peds.2016-2591

Uso de medias para crianças e adolescentes em idade escolar:

http://pediatrics.aappublications.org/content/early/2016/10/19/peds.2016-2592

Crianças e adolescentes e as medias digitais:

http://pediatrics.aappublications.org/content/early/2016/10/19/peds.2016-2593

Resumo das recomendações da Associação Americana de Pediatria

  • Para as crianças com idade inferior a 18 meses, evitar o uso de produtos tecnológicos, a não ser as interações entre pessoas por meio de videoconferências.
  • Os pais de crianças de 18 a 24 meses de idade que querem introduzir a mídia digital devem escolher uma programação de alta qualidade, e assisti-la com seus filhos para ajudá-los a entender o que eles estão vendo.
  • Para crianças de 2 a 5 anos, limite o uso de tela de 1 hora por dia de programas de alta qualidade. Os pais devem assistir junto com as crianças para ajudá-los a entender o que eles estão vendo e como o conteúdo se relaciona com o mundo em volta deles.
  • Para crianças com idades a partir de 6 anos, colocar limites claros e consistentes sobre o tempo gasto com meios de comunicação e certificar-se que as mídias não tomam o lugar do sono adequado, da atividade física e de outras atividades essenciais para a saúde.
  • Designar as atividades conjuntas livres de mídia, como as refeições ou deslocamentos no carro, bem como locais livre de mídia em casa, tais como quartos e sala de jantar
  • Manter uma comunicação contínua sobre cidadania e segurança on-line, incluindo a tratar os outros com respeito on-line e off-line.

Detalhando as recomendações

Designar em casa áreas livres de telas

Cozinha ou sala de jantar e de refeições:

  • as refeições em família e as ocasiões sociais são livres de tecnologia ou telas em geral

Quartos:

  • recarregar dispositivos durante a noite fora do quarto, mensagens e chamadas recebidas podem interferir com o sono
  • ajudar as crianças a evitar a tentação de usar ou verificar dispositivos quando eles deveriam estar dormindo
  • luz emitida a partir de dispositivos de carregamento ainda pode afetar a qualidade do sono do seu filho

Restringir os horários de uso de telas – não se usa celulares e outras telas nos seguintes horários:

  • Uma hora antes de dormir
  • Durante as refeições
  • Tempo conjunto da família
  • Na hora do dever de casa
  • Na escola
  • Andando na rua
  • No carro, a não ser em viagens longas

Nas horas de lazer, usar as telas da seguinte maneira:

  • Assistir medias com um dos pais ou de adultos, pois permite a interação e discussão. As crianças aprendem melhor a partir da mídia, de programas educativos e de vídeos quando em conjunto e com interação pai-filho ou adulto-criança
  • Jogar jogos de vídeo e usando aplicativos com um dos pais ou adultos. As crianças aprendem mais a partir da mídia quando eles compartilham a experiência com um adulto.
  • Monitoramento dos pais na conexão com seus filhos e adolescentes. Permite que os pais tenham melhor avaliação de como os filhos estão gastando seu tempo.
  • Interagir com os amigos ou parentes
  • Brincar com aplicativos criativos, educacionais e promover interações saudáveis com os outros
  • Assistir a show e vídeos apropriados para a idade e junto com adultos
  • Jogar em aplicativos educativos

Mais de 80.000 aplicativos são rotulados como educacionais, mas um pouco de pesquisa tem demonstrado a sua qualidade real. Produtos lançado como “interativos” devem exigir mais do que “empurrar e deslizar os dedos.”

Use a mídia de uma forma que promove a interação, conexão e criatividade. Diferentes tipos de mídia podem ter cada potenciais benefícios, por isso o uso da mídia é melhor diversificada de modo a que nem todos do seu tempo é gasto fazendo uma atividade específica.

Outras regras importantes:

NÃO jogar jogos de vídeo que são contra as regras da nossa família, tanto em casa quanto na casa dos amigos ou parentes

NÃO baixar aplicativos, filmes, jogos, sem autorização e perguntar a um adulto se eles são apropriados para a minha idade

NÃO visitar novos sites ou sites de vídeo sem pedir permissão

O que o Ex-Ministro Fernando Haddad acha da reforma do ensino médio proposta pelo Governo Federal

Ministro por 8 anos durante o governo do PT em nível federal, o atual Prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, é uma autoridade em termos de educação no Brasil e, portanto, sua opinião a respeito da importante reforma da política educacional brasileira para o ensino médio, proposta pelo Governo Federal, deve ser levada em conta, ou, no mínimo, analisada em mais detalhe.

Ele propôs, em artigo publicado ontem na seção Tendências e Debates do Jornal Folha de S. Paulo, as seguintes alternativas ao que foi apresentado recentemente pelo atual Governo, por meio de Medida Provisória para reformar o ensino médio:

1) Fim do vestibular e revisão da matriz do Enem em consonância com a base comum nacional;

2) Obrigatoriedade do Enem como componente curricular e sua adoção como métrica da qualidade;

3) Inclusão de ciências da natureza na Prova Brasil do 9º ano;

4) Apoio federal para reestruturação do ensino médio noturno;

5) Integração do ensino médio com formação profissional, sobretudo na educação de jovens e adultos;

6) Permissão para que prefeituras que universalizaram a educação infantil e o fundamental possam investir no ensino médio com recursos do Fundeb;

7) Fortalecimento do ensino médio federal.

Meus comentários sobre as propostas do Ex-Ministro:

1) Fim do vestibular e revisão da matriz do Enem em consonância com a base comum nacional;

O Governo Federal já fez a sua parte investindo recursos em uma prova nacional que se mostrou um sucesso, embora ainda tenha muito o que melhorar em termos do que exige que os alunos façam e dos critérios de correção – ver post da semana passada a respeito do novo manual de redação do ENEM.

Mas cada instituição de ensino tem a prerrogativa de fazer sua seleção de ingressantes do jeito que achar melhor, inclusive inovando com a aceitação de parâmetros mais exigentes como as notas do International Baccalaureate (IB), já aceitas pela ESPM, por exemplo.

2) Obrigatoriedade do Enem como componente curricular e sua adoção como métrica da qualidade;

Medida interessante, porque há escolas que praticamente não ensinam nada de novo a seus alunos na etapa do ensino médio. Mas essa sugestão provavelmente se tornará inócua com a nova BNCC, que deverá trazer as expectativas de aprendizagem obrigatórias também para esta etapa, desde que essas sejam mais complexas do que se exige hoje para o ENEM.

3) Inclusão de ciências da natureza na Prova Brasil do 9º ano;

Boa! Já fez parte do Saeb, mas há custos altos envolvidos e estamos enfrentando cortes de despesas. Fica a dica.

4) Apoio federal para reestruturação do ensino médio noturno;

É importante sim que o ensino noturno seja apenas uma exceção e não uma das opções de oferta de vagas para 30% dos alunos. É urgentemente preciso que sejam criadas vagas no período diurno para todos os estudantes que queiram cursar a etapa durante o dia, como também um sistema de bolsas para que os alunos até os 18 anos não precisem trabalhar, se ainda não tiverem concluído a educação básica obrigatória.

5) Integração do ensino médio com formação profissional, sobretudo na educação de jovens e adultos;

A Medida Provisória editada pelo Governo vai mesmo nessa direção, inclusive abrindo a possibilidade de mais um ano de ensino médio para que o aluno aumente suas opções de formação. Além disso, já existe o Pronatec. As críticas que se fazem ao programa são de que foi mais um sistema de transferência de renda para a iniciativa privada do que um programa sério de formação prática para o trabalho a partir de um alinhamento concreto com as cadeias produtivas locais.

6) Permissão para que prefeituras que universalizaram a educação infantil e o fundamental possam investir no ensino médio com recursos do Fundeb;

Para que um município possa diluir sua despesa de educação avançando para uma etapa que não é sua responsabilidade constitucional, deveria antes garantir um nível de desempenho muito alto em todas as escolas de sua rede, se não, teremos o famoso “despir um santo para vestir o outro”. Se nossa nova BNCC for realmente séria acho difícil sobrar recursos para tal ousadia.

7) Fortalecimento do ensino médio federal.

Toda vez que ouço falar em aumento do ensino federal, meus alarmes de corporativismo tocam. O ensino federal custa muito mais caro que o municipal e que o estadual e não há mostras que façam um trabalho muito melhor, a não ser pela super seleção de alunos.

Os dados e as soluções: o desenho está melhorando

Nas últimas semanas tivemos vários eventos ligados à política educacional brasileira em âmbito nacional:

  1. A divulgação dos dados do Saeb/ Prova Brasil
  2. A divulgação dos dados gerais do ENEM e, em particular, dos dados por escola 
  3. A apresentação da Medida Provisória de reforma do ensino médio e
  4. A apresentação do manual de redação do ENEM 2016
  5. A divulgação dos dados do censo de educação superior 2015 pelo MEC

Os itens 1 e 2 nos apresentaram, MAIS UMA VEZ, o cenário pavoroso em que se encontra a educação brasileira. Os dados da Prova Brasil, aplicada de forma censitária a praticamente todos os alunos matriculados nos anos finais de cada uma das etapas do ensino fundamental (5o e 9o anos) e de forma amostral ao final do ensino médio (fazendo parte do Saeb – para entender a diferença, acesse o link do item 1 acima), nos mostram que os alunos de 5o ano começam a esboçar uma trajetória mais consistente: ao invés de, como vinha sistematicamente ocorrendo de 2005 a 2013, apenas as escolas com melhores notas conseguirem aumentar a nota da prova, as piores também “descolaram” do fundo do poço e começaram a aumentar. Mas não nos enganemos, quase todas as escolas vão muito mal e todas as redes públicas de ensino também. A única rede que mostra um avanço expressivo, com quase todas as escolas obtendo já no 5o ano a nota esperada para o 9o, é a já famosa rede de Sobral, no sertão do Ceará.

As planilhas por escola que trazem os dados do ENEM mostram que a elite da elite dos alunos brasileiros, ou seja, aqueles que permaneceram estudando até o final do da educação básica E QUE desejam avançar para o ensino superior, sabem muito pouco em relação ao que deveria lhes ter sido ensinado (apesar de ainda não termos um documento curricular que nos diga o que seria, contamos apenas com os descritores das provas e com uma certa “tradição” de ensino – cada vez mais rala, diga-se de passagem). Uma forma fácil de se perceber isso é analisar as notas das redações. Se os alunos, recém saídos da escola, por onde andaram nos últimos 13/14 anos, uma vez que as crianças no Brasil são obrigadas a entrar na escola aos 4 anos, não conseguem escrever uma redação argumentativa sobre um tema da atualidade, como é que vão conseguir levar até o fim o ensino superior??

Os dados do censo do ensino superior mostram que quase a metade dos alunos desistiram do curso superior em 2014. A crise econômica e os cortes no Fies tanto têm impacto na entrada de novos alunos, que diminuiu no último ano, como na sua permanência no curso, mas muitos alunos desistem também ao perceber que o curso não “se paga”, ou seja, que cursar o ensino superior não necessariamente garantirá um emprego que, pelo menos, amortize o investimento. Alguns desistem também por não acompanhar as exigências acadêmicas que a sua carreira universitária lhes faz. O melhor preditor individual de desempenho no ensino superior é justamente a capacidade do aluno de produzir uma redação argumentativa (!)

Assim, o MEC traz dois importante elementos de política pública para mitigar as mazelas desenhadas pelos dados: a proposta de reforma do ensino médio e o novo manual de redação do ENEM. A reforma ainda precisa ser melhor explicada e compreendida, para poder ser votada sem grandes alterações. Como já comentei neste blog o desenho é bom.

A outra boa notícia é o manual de redação, ainda mais detalhado que os anteriores. É importante lembrarmos que alunos mais vulneráveis normalmente só conseguem contar com professores igualmente vulneráveis do ponto de vista de sua formação e de sua capacidade de ensinar. Desenvolver a capacidade de fazer boas redações exige ao mesmo tempo um empenho de escrita diária e um professor com disponibilidade de corrigir os erros e de apresentar opções para sua solução. Sabemos que nem um nem outro são hábitos consolidados nas escolas brasileiras, como consequência, redações que alcancem a nota máxima também o são!

Vamos lembrar que passamos alguns anos relativizando a importância da Gramática. Ela nem foi incluída na primeira versão da Base Nacional Comum (!). Só que os examinadores das provas o ENEM, assim como os das provas nas universidades e no mercado de trabalho valorizam sim a norma formal ou culta da língua. Negar isso no público e cobrar no privado é uma forma de exacerbar a desigualdade.

Assim, temos mais uma boa notícia em termos do DESENHO das políticas públicas de educação. Resta-nos saber como será o seu uso e implementação nas salas de aula do País, em especial aquelas mais vulneráveis….

Dois exemplos do que o manual traz. Para quem estava acostumado a ver um documento mais genérico, ai vão uns exemplos do que o documento novo apresenta.

Aspectos que caracterizam a normal formal da língua portuguesa:

Concordância nominal e verbal; – regência nominal e verbal; – pontuação; – flexão de nomes e verbos; – colocação de pronomes oblíquos (átonos e tônicos); – grafia das palavras (inclusive acentuação gráfica e emprego de letras maiúsculas e minúsculas); e – divisão silábica na mudança de linha (translineação).

ESTRATÉGIAS ARGUMENTATIVAS – São recursos utilizados para desenvolver os argumentos, de modo a convencer o leitor: • exemplos; • dados estatísticos; • pesquisas; • fatos comprováveis; • citações ou depoimentos de pessoas especializadas no assunto; • pequenas narrativas ilustrativas; • alusões históricas; e • comparações entre fatos, situações, épocas ou lugares distintos.

Quanto mais os alunos brasileiros se apropriarem desse manual de redação e de todos os outros que se podem achar na internet, assim como criar o hábito de escrever sobre um tema atual diariamente, mesmo que sem ninguém para corrigir, mais rápido as notas das redações sobem e com elas a capacidade de argumentar dos brasileiros. Mas, ao mesmo tempo, temos que usar esta mesma capacidade de expor ideias para cobrar das autoridades que garantam a TODAS AS SALAS DE AULA do Brasil professores que trabalhem e corrijam as redações dos alunos TODAS AS SEMANAS!!

Um currículo do sertão para o Brasil. Fica a dica, prefeitos novos!

Passadas as eleições municipais, com os novos mandatários escolhidos na maior parte dos municípios do Brasil e alguns candidatos que ficaram afiando o discurso para a nova rodada de votação, gostaria de completar aqui no blog a apresentação do trabalho que a equipe técnica da Secretaria de Educação do Município de Sobral, no Estado do Ceará, coordenada pela Paula Louzano e por mim, produziu como nova proposta curricular de Língua Portuguesa.

No post “Um currículo para guiar a busca por novos caminhos” já apresentei a estrutura do novo documento curricular da localidade e hoje gostaria de apresentar os perfis de saída da educação infantil e do 9º ano. Todas as séries da educação básica são, obviamente, essenciais para preparar o aluno para sua vida pós-escolar, ou o conjunto delas não se chamaria “educação básica” e não seria obrigatoriamente oferecida pelo Estado! Exatamente por causa disso, olhar para cada etapa, com uma inspiração estratégica para delimitar a contribuição de cada uma delas para o que se espera desse investimento brutal da sociedade, é fundamental.

Foi isso que fizemos durante todo o processo de criação do documento, que demorou quase dois anos para ficar pronto: pensar estrategicamente em como produzir um guia de planejamento pedagógico para cada escola ou rede que resolver implementá-lo. Aproveitamos os resultados das eleições para convidar os novos prefeitos a pensar estrategicamente também e a conhecer o que estamos propondo. Aí vai.

Como quem leu o post anterior já sabe, o currículo foi dividido em 4 eixos: Oralidade, Leitura, Escrita e Gramática. O aluninho que sai da educação infantil deverá estar pronto para a vida escolar formal que se inicia e chamamos esse nível (que agrega de forma lógica os quatro eixos) de “Expectativas de introdução à lógica escolar acadêmica”. Isso quer dizer que esperamos que a criança na educação infantil tenha conseguido, em média, o seguinte:

1.1.1 Desenvolvido a consciência fonêmica e 2.1.1 Desenvolvido a consciência alfabética

2.1.2 Decodificar

3.1.1 Desenvolvido as habilidades motoras finas e a 3.1.2 Apropriar-se do sistema de escrita

4.1.1  Incorporado, de modo funcional, as regras fonéticas e fonológicas e 4.1.2 Incorporado, de modo funcional, as regras morfológicas

Detalhando, significa que o aluno, ao entrar no 1º ano do ensino fundamental será capaz de:

Análisar quase autonomamente palavras do padrão canônico e não canônico,

a) identificando os sons de suas letras;
b) identificando os seus pares mínimos;
c) operando na contagem, pronúncia, junção, separação e repetição de suas letras e sílabas em trissílabas;
d) pronunciando-as de forma audível, articulada e correta.

Respeitar quase autonomamente, as regras de cortesia, combinadas pelo grupo, nas diversas situações de interação,

a) ouvindo sem interromper;
b) demonstrando atenção no interlocutor;
c) adequando a sua linguagem corporal;
d) pedindo a palavra para expor suas ideias;
e) modelando o tom de voz nas interações comunicativas;
f) utilizando as formas de tratamento adequadas;
g) colaborando com a elaboração do conjunto dos valores e das regras de convivência da classe, escola e/ou rede.

Realizar, quase autonomamente, apresentações orais  planejadas e/ou ensaiadas previamente,

a) desenvolvendo eloquência;
b) utilizando recursos visuais, quando necessário.

Expressar-se, quase autonomamente, de maneira efetiva nas diferentes interações,

a) pronunciando, de forma articulada e com clareza palavras, frases, perguntas, queixas, opiniões ou manifestações gerais;
b) utilizando vocabulário familiar de forma correta;
c) fazendo uso da persuasão, sem coação, quando conveniente;
d) mantendo-se no tema abordado.

Compreender texto oral,

a) reconhecendo o tema geral abordado;
b) selecionando alguns de seus elementos e/ou informações principais.

Desenvolver a consciência alfabética, quase autonomamente:

a) identificando o nome da maior parte das letras do alfabeto, nas diferentes formas de grafia (maiúscula e minúscula, não cursiva e cursiva);b) diferenciando letras de algarismos arábicos, de símbolos e marcas de seu cotidiano, fazendo leitura de textos verbais e não-verbais; c) reconhecendo pares mínimos em palavras do padrão canônico e não canônico em estudo; d) identificando sílabas, inicial e final, de palavras do padrão canônico e não canônico em estudo; e) operando na contagem, pronúncia, junção, separação e repetição de letras e sílabas de palavras do padrão canônico e não canônico.

Decodificar, quase autonomamente, palavras de até 4 sílabas do vocabulário familiar, formadas por fonemas em estudo, desenvolvendo a automação e a fluência.

Ler, quase autonomamente, palavras de até 4 sílabas do vocabulário familiar, de forma audível e compreensível, respeitando os princípios da precisão e prosódia.

Compreender, a partir da leitura, textos não verbais ou frases curtas, localizando informações explícitas.

Analisar texto narrativo não verbal, identificando a) as situações inicial e final (Enredo); b) os grandes eventos (Sequência/Tempo); c) os principais cenários e lugares (Espaço); d) os personagens principais (Personagem).

Desenvolver, quase autonomamente, as habilidades motoras finas, escrevendo palavras e frases curtas com escrita não cursiva, em suporte de pauta simples ou dupla.

Apropriar-se do sistema de escrita, escrevendo a) o próprio nome completo e correto na forma cursiva; b) reconhecendo diferentes formas de grafar a mesma letra; c) palavras, frases e sequências de frases, com escrita não cursiva de nível silábico-alfabético.

Copiar orientações simples curtas.

Registrar informações coletadas a partir de uma fonte de pesquisa, combinando desenhos, ilustrações e escrita própria.

Produzir pesquisa referente a um assunto de seu cotidiano, transcrevendo perguntas e hipóteses formuladas a partir da discussão, em sala, sobre o tópico a ser pesquisado.

Construir uma narrativa, a partir da combinação de desenhos, ilustrações e escrita própria, a) contando um único evento ou vários eventos pouco conectados entre si (Estrutura/Enredo); b) usando, no mínimo, um evento simples em sequência de ordem cronológica (Sequência/Tempo); c) apresentando, no mínimo, um espaço físico (Espaço); d) descrevendo, no mínimo, um personagem plano com características físicas muito gerais (Personagem).

Construir um texto injuntivo, quase com autonomia, a partir da combinação de desenhos, ilustrações e escrita própria ou coletiva, a) instruindo o leitor acerca de um procedimento; b) induzindo que o leitor proceda de uma determinada forma; c) utilizando linguagem simples; d) descrevendo ações.

Incorporar, de modo funcional, as regras e os mecanismos de estrutura e formação das palavras de padrão canônico e não canônico, para decodificá-las corretamente, diferenciando, encontros vocálicos; dígrafos vocálicos; dígrafos consonantais (LH, CH, NH, SS e RR); /s/ (S, C e SS); /R/ (R e RR); /ʃ/ (X e CH); /k/ (K e C); /Ʒ/ (G e J); • /z/ (Z e S).

E já que estamos em época de reforma do ensino médio, acreditamos que as alterações que foram propostas pelo Governo Federal só vão ser boas para os alunos brasileiros e para o Brasil se os alunos estiverem aptos a performar o mesmo que estamos propondo para os alunos de Sobral:

Respeitar as regras de cortesia, combinadas pelo grupo, nas diversas situações de interação,

a) ouvindo sem interromper;
b) demonstrando atenção no interlocutor;
c) adequando a sua linguagem corporal;
d) pedindo a palavra para expor suas ideias;
e) modelando o tom de voz nas interações comunicativas;
f) utilizando as formas de tratamento adequadas;
g) colaborando com a elaboração do conjunto dos valores e das regras de convivência da classe, escola e/ou rede;
h) evitando o uso de palavras com potencial ofensivo;

i) reagindo de forma pacífica diante de conflitos;
j) respeitando a opinião dos demais.

Realizar apresentações orais planejadas e/ou ensaiadas previamente,

a) desenvolvendo eloquência;
b) utilizando diferentes tipos de recursos, quando necessário;
c) assegurando introdução, desenvolvimento e breve conclusão, no caso de explanação de trabalhos;
d) expondo, detalhadamente, os temas abordados em uma sequência lógica;
e) adequando a linguagem ao contexto;
f) integrando o espectador à apresentação;
g) apresentando, quando necessário, seu posicionamento diante da opinião de outros, de forma respeitosa;
h) sintetizando os pontos abordados.

Expressar-se de maneira efetiva nas diferentes interações,

a) pronunciando, de forma articulada e com clareza palavras, frases, perguntas, queixas, opiniões ou manifestações gerais;
b) utilizando vocabulário familiar de forma correta;
c) fazendo uso da persuasão, sem coação, quando conveniente;
d) mantendo-se no tema abordado;
e) conectando o tema abordado com suas próprias ideias;
f) corrigindo sua fala mediante percepção de erro;
g) explicando seu raciocínio aos interlocutores;
h) reformulando o que lhe foi dito pelo interlocutor;
i) apresentando, quando necessário, seu posicionamento diante da opinião de outros;
j) avaliando a extensão da fala;
k) questionando pontos de vista, com argumentos, de maneira coerente ao contexto;
l) sintetizando os pontos abordados.

Compreender, a partir da leitura, texto não verbal, verbal ou que articula elementos verbais e não verbais. a) localizando informações explícitas ou parcialmente explícitas e os trechos que as comprovem; b) inferindo informações e, a partir de trechos, comprová-las; c) reconhecendo as relações lógico-discursivas, repetições ou substituições estabelecidas por recursos coesivos, por meio de trechos que os comprovem; d) apreendendo o sentido e o efeito do sentido de palavras ou expressões; e) reconhecendo o efeito de sentido decorrente do uso da pontuação ou dos recursos tipográficos, estilísticos e morfossintáticos; f) estabelecendo relação de causa e consequência entre as partes de um texto; g) reconhecendo o efeito de humor ou ironia em textos diversos; h) distinguindo um fato de uma opinião relativa a este fato, por meio de trechos que os comprovem; i) diferenciando a informação principal das secundárias, por meio de trechos que a comprovem.

Analisar texto narrativo, a) explicando a construção dos diferentes momentos do enredo e as escolhas feitas pelo autor, por meio de trechos que as comprovem (Enredo); b) identificando como a interligação dos eventos ajuda a construi-los e caracterizá-los, por meio de trechos que as comprovem (Sequência/Tempo); c) comprovando, por meio de trechos, como a construção dos diferentes espaços influencia no desenvolvimento (Espaço); d) identificando a conexão entre os diferentes papeis exercidos pelos personagens, por meio de citações do texto, e como suas ações e características individuais e coletivas contribuem para a construção do enredo (Personagem); e) identificando o narrador e sua perspectiva (1ª/3ª pessoa) ou opinião sobre os acontecimentos e personagens, com reflexão de quando e por que muda de ideia, se for o caso, por meio de trechos que o comprovem (Narrador).

Comparar textos escritos, de temática e gêneros idênticos ou não, a) reconhecendo como este tema é abordado por diferentes autores, ou em culturas ou épocas distintas, por meio de trechos que os comprovem; b) analisando semelhanças e diferenças entre estruturas, elementos e informações; c) identificando posições distintas entre duas ou mais opiniões relativas a um mesmo fato ou tema, por meio de trechos que os comprovem; d) integrando aspectos complementares, quando apresentados, por meio de trechos que os comprovem; e) comprovando evidências ou interpretações diferentes, por meio de trechos.

Anotar os pontos principais de orientações, explicações ou exposições, a) selecionando questionamentos para discussão posterior; b) destacando a conexão entre eles; c) construindo esquema que contenha uma sequência lógica; d) fazendo o uso de paráfrase.

Registrar informações coletadas a partir de diversas fontes de pesquisa, a) anotando pontos relevantes; b) listando as referências utilizadas. c) estabelecendo categorias conforme as evidências; d) citando partes que confirmem sua credibilidade e veracidade; e) fazendo uso de paráfrases e citações, sem plágio.

Produzir pesquisa, com método científico, referente a um assunto de seu interesse, a) formulando perguntas e hipóteses, a partir da reflexão sobre o tema; b) coletando dados e informações; c) citando partes que confirmem ou refutem as hipóteses levantadas; d) complementando, com suas próprias ideias, a análise das informações; e) elaborando uma conclusão.

Redigir texto narrativo a) contando os eventos reais ou imaginários, com a capacidade de estabelecer uma situação inicial, detalhes relevantes no desenvolvimento e uma ideia para o seu encerramento que seja consequência dos eventos narrados anteriormente (Estrutura/Enredo); b) usando vários eventos bem elaborados em sequência de ordem cronológica, histórica e/ou psicológica com uma variedade de marcadores de tempo e a transição entre eles (Sequência/Tempo); c) apresentando, vários espaços com detalhes de suas características físicas e sensoriais, bem como a transição entre eles (Espaço); d) descrevendo pelo menos um personagem redondo, com sua descrição física, psicológica e social e a relação e a percepção da hierarquia (personagem principal, secundário, antagonista, etc.) entre eles na história (Personagem); e) usando narrador observador, personagem ou onisciente, com demonstração/mudança de seu ponto de vista ou não, em discurso indireto e/ou direto (Narrador).

Redigir uma dissertação-argumentativa, a) expondo o tema principal do texto, de forma específica, buscando delimitá-lo; b) expondo algumas hipóteses sobre o problema apresentado (Hipótese); c) explicitando o ponto de vista central defendido no texto sobre o qual se pretende convencer o interlocutor, a partir das hipóteses levantadas (Tese); d) usando pelo menos três argumentos que justifiquem, com evidências, a opinião exposta e a hipótese escolhida (Argumentos); e) usando pelo menos um contra-argumento, quando convier, que refute alguns dos argumentos (Contra-Argumentos); f) construindo uma conclusão, a partir dos argumentos apresentados, e da confirmação ou refutação da hipótese escolhida (Conclusão).

Fica a dica, pessoal! Quem quiser receber o documento completo quando ele ficar pronto, por favor escreva para ilona@exequi.com. Até breve!