Arquivos Mensais: abril \21\America/Sao_Paulo 2013

Os nossos alunos são menos capazes que os portugueses?

O Governo Federal lançou o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa no final de 2012 e no início deste ano disponibilizou para consulta pública o documento que o MEC preparou para embasar pedagogicamente a formação dos alfabetizadores e boa parte dos R$3 bilhões que vamos gastar para alfabetizar nossos alunos das escolas públicas até os 8 anos. Com mais de 80% das crianças já matriculadas na educação infantil, com as novas gerações que já contam com pais com escolarização mais alta, com a disponibilidade de brinquedos e material letrado a custo muito baixo (pelo menos nas cidades de porte médio para cima), não faz sentido deixar uma meta tão medíocre.

Será?

Para os Secretários Municipais de educação, principalmente os do Nordeste, é uma meta fácil de bater (para quem já conseguiu vagas para a educação infantil para seus munícipes), e não chega a ser uma ameaça, até porque não se tem um prazo apertado para batê-la. Além disso, quanto menos alfabetizadas e pedagogicamente acolhidas as crianças pobres forem, menor é a pressão para aumentar a qualidade dos níveis subsequentes de ensino e menor é a pressão pela emancipação que a educação de qualidade pode trazer.  Para quem, por gerações, vem trazendo a população no “cabresto curto”, nada mais ameaçador que a educação com excelência e equidade. Este é o verdadeiro pacto da Alfabetização aos 8 anos: deixar tudo como está.

Está faltando gente no debate

A formação das políticas públicas de educação se dá principalmente nos gabinetes dos secretários de educação e de planejamento, do Ministro e nas equipes técnicas das secretarias de educação. Além disso, cada vez mais o Legislativo brasileiro vem ocupando espaço na formulação das políticas do setor, ora preenchendo o vazio deixado pelo Executivo, ora cedendo a pressões de determinados grupos de interesse. A imprensa tem papel importante nesta equação, pois, em grande medida, regula a opinião pública, que, por sua vez, influencia os demais atores. Por isso, é importante que o debate público, que se dá na imprensa formal, ou mais recentemente, em redes sociais como esta, abra espaço para que todos os interessados possam se manifestar, de acordo, EXPLICITAMENTE, com seus interesses. Hoje, no Brasil, alunos e seus pais estão sub representados. Os professores também, quando a sua opinião não reflete a do seu sindicato. Além deles, faltam os acadêmicos especializados na análise de políticas públicas que se baseiam em evidências bem construídas, sólidos conceitos e em referências atualizadas para formarem seu juízo.