Nossos cérebros vão passear lá fora, mas podem não voltar
Reportagem interessante do Jornal O Globo deste domingo sob o título Diploma Estrangeiro mostra o crescimento do número de brasileiros indo para fora do Brasil para cursar programas de graduação.
Segundo a reportagem, quase 247 mil alunos foram estudar fora em 2016. Destes, 63 mil para cursar faculdade, ou seja, obter diploma de curso superior (e não de pós graduação, ou de língua estrangeira, o que ainda bem mais comum). O número de graduandos brasileiros no exterior em 2015 era de 42 mil, ou seja, um crescimento de 54% de uma ano para o outro. O que os especialistas consultados para a matéria disseram é que esse crescimento substancial é que algumas famílias (as que podem pagar, obviamente) estão querendo preparar seus filhos para carreiras globais, colocando-os em instituições de ensino que os preparem para uma competição em nível internacional.
Como eu e a maioria de meus amigos e familiares pensamos assim, ou seja, havendo disponibilidade financeira, iremos preparar nossos filhos em escolas de educação básica que os façam aprender e ralar muito, para que na universidade possam competir por vagas nas melhores universidades do mundo, gostaria de compartilhar com meus leitores porquê.
Teoricamente, nós vivemos em um país continente. Deveríamos ter universidades aqui produzindo muitos cérebros e ainda por cima ser um grande imã de talentos, dispostos a desbravar nosso País, dar bom uso a nossos recursos naturais, desenvolver nossa agricultura, etc.
SÓ QUE NÃO!
Só que as universidades brasileiras são de muito má qualidade, com raríssimas exceções, que, apesar de rankings fofinhos e generosos que colocam algumas poucas delas na primeira ou segunda centena (OMG!!! somos a 6º ou 7º economia do mundo) deles, de forma nenhuma podem ser comparadas com seus pares naturais. Ou seja: a melhor faculdade de medicina de um país do tamanho do Brasil deveria ter muito mais em comum com algumas das melhores universidades do mundo. Mas não. No máximo alguns departamentos, que contam com professores heróis, fazem convênios e pesquisas conjuntas com departamentos análogos em países desenvolvidos.
E porque isso? Falo pela minha experiência. As universidades públicas são extremamente mal administradas, tomadas pelo corporativismo do setor público, transformadas em cabides de emprego para funcionários de baixíssima produtividade e de professores que não fazem nenhum esforço pelo aprendizado de seus alunos. As instituições privadas, por outro lado, são, na maioria, fábricas de diploma. Elas até adicionam algum conhecimento na cabeça dos alunos, mas em comparação, é quase o mesmo que uma pessoa aprende em uma escola de nível médio e qualidade rala em país desenvolvido.
Preparar aulas? Atualizar bibliografia? Usar a bibliografia que está na ementa de forma produtiva em sala de aula? Fazer aluno estudar muito e depois verificar se ele compreendeu por meio de produção escrita, que é revisada e devolvida para o aluno estudar de novo? Não, nunca! É a resposta mais comum que teremos a essas perguntas se formos fazer um levantamento sério com os alunos.
Pior, os alunos gostam do pacto de mediocridade. Eu finjo que vou à universidade, a sociedade paga nas públicas por meio de custeio ou de bolsas nas privadas e ninguém está nem aí. Quem realmente se preocupa, paga para os filhos ficarem longe das universidades brasileiras, como eu disse, com mínimas exceções, para que seus filhos peguem os melhores, e provavelmente os únicos, empregos que vão sobrar no mundo depois das 4ª Revolução Industrial.
Então o problema é bem grave: além de nossas universidades serem de péssima qualidade, o que tem impacto certeiro na formação de capital humano qualificado para resolver nossos problemas agora e no futuro, quem opta por estudar fora às vezes não volta: ou seja, perdemos o pouco capital humano local para países que o já te, de sobra. Isso se explica por alto capital humano ATRAI alto capital humano, apesar da competição. Quem volta, pega os melhores empregos e se mantém no poder, exatamente como faziam as famílias de maior renda na época do Brasil Colônia. Triste ver como caminhamos pouco na educação, apesar de termos nos auto-enganado muito.