Arquivos Mensais: novembro \15\America/Sao_Paulo 2012

Edição de novembro de 2012 – A nova educação a distância

Educação a distância não é necessariamente uma grande novidade. Livros e catálogos pelo correio, programas educativos transmitidos por rádio ou TV são conhecidos das gerações anteriores às nossas. Mas duas mudanças impressionantes e complementares tornam o ensino a distância um assunto muito atraente nos dias de hoje: a queda vertiginosa no preço de acesso a dados, voz e imagem por meio eletrônico e o implacável desejo por novos saberes que a Era do Conhecimento configura.

Mas a educação escolar é bem diferente da educação profissional ou profissionalizante, do compartilhamento de informações entre pares, da aquisição de informações de curto prazo e da busca do conhecimento para entretenimento. A educação escolar é, obviamente, para pessoas em idade escolar, que aqui no Brasil são os indivíduos com idade entre 4 e 17 anos.

Nessa faixa etária, mesmo que de maneira decrescente, da idade mais tenra para a mais avançada, a supervisão e a mediação de adultos é crucial para garantir o sucesso de quase todas as atividades desempenhadas por essas pessoas. Da higiene pessoal ao equilíbrio nutricional, das atividades físicas ao estudo, deixar crianças e adolescentes escolherem o que, quando e como fazer, sem supervisão, não costuma dar bons resultados.

Com certeza não é diferente na educação a distância (estamos assumindo que pais e docentes estão em supervisão permanente no que é considerado educação presencial). A seleção dos conteúdos, o tempo de exposição àquele determinado canal de informação e a mediação do relacionamento quando a atividade envolve outros indivíduos de mesma faixa etária, requer dos adultos responsáveis pelo processo uma intensa participação.

Como em qualquer novidade, sempre haverá oportunistas de plantão querendo maximizar as “suas” oportunidades de lucro mistificando o impacto daquilo que vendem. Na educação pública, além de os lucros serem infinitamente maiores, dada a escala desse tipo de serviço, ainda há o lucro da exposição de imagem pessoal ao se propor soluções milagrosas para um problema estrutural: a péssima qualidade da educação oferecida pelo Estado brasileiro.

Então vamos devagar com o andor, porque as cabecinhas de nossas crianças ainda são de barro e não podem ser partidas na pressa novidadeira.

Jogos eletrônicos interativos a distância são uma diversão e uma forma de manter os neurônios azeitados. Uma escola que complementa seu conteúdo com pesquisas focadas, relevantes e imediatas na internet empodera alunos e professores na busca por conhecimento atualizado, por visões complementares de um mesmo tema, por imagens que sintetizem uma ideia complexa; são exemplos de “esbórnia” educacional a um custo bem baixo.

Entretanto, o fato de uma criança pequena ser capaz de mexer em um tablet pode parecer encantador, mas o que está lá dentro deve ser avaliado e dosado por seus pais e professores. Trocar o tablet pela oportunidade de se ensinar um filho a se comportar em um ambiente público é uma péssima ideia. Por outro lado, há coisas fantásticas para aguçar habilidades cognitivas infantis dentro desses aparelhinhos.

Em uma sociedade como a nossa, na qual os professores da educação básica não são muito bem vistos, disseminar a noção de que eles podem ser substituídos por telinhas é um desserviço à construção de um ambiente educacional mais profissionalizado e competente. Mas aulas de reforço e testes a distância para quem está se preparando para concursos, como os vestibulares universitários, são uma mão na roda.

A conclusão é que educação a distância, como tudo de bom na vida, não pode fugir ao princípio da parcimônia e da cautela.

 

Matéria publicada na edição de novembro de 2012 da revista Gestão Educacional.