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A estrutura do “nosso” curso de Pedagogia

Como havia anunciado em um post anterior, eu e uma amiga super competente da área de formação docente, a Márcia Sebastiani, estamos montando um curso “ideal” de Pedagogia, para formar docentes para a educação infantil e ensino fundamental I. Estamos levando em consideração o fato de que a formação em Pedagogia é diferente da em Licenciatura em alguma disciplina específica e que o profissional Pedagogo pode atuar tanto na educação infantil, quanto na primeira etapa do ensino fundamental. Para além disso, não estamos considerando limites de recursos humanos ou materiais e é por isso que estamos chamando esse singelo projeto pessoal de “ideal”.

Nossa princial intenção é dar contribuições concretas e específicas para o atual e urgente debate sobre a qualidade e relevância da formação inicial de docentes, em particular os dessas duas etapas iniciais da educação escolar, que, em nossa percepção, devem ser absolutamente integradas. Ou seja, os principais conceitos, fundamentos teóricos e experiências práticas para preparar os docentes para atuar com alunos entre 4 e 10 anos devem ser coerentes entre si, integrados de uma etapa do desenvolvimento para a seguinte, para serem conhecidos e internalizados desde a formação inicial da graduação e não como pós-graduação. Mesmo que sejam muito bem vindas diversas formações adicionais específicas, que aprofundem e complementem os conteúdos e vivências essenciais apresentados nesta proposta, a realidade se impõe para que os professores egressos de cursos universitários estejam preparados para atuar de forma competente e eficaz em uma ampla gama de contextos educacionais.

Acreditamos que a formação básica de um docente que enfrenta o desafio de garantir boa parte do desenvolvimento integral de crianças entre (aproximadamente) 4 e 10 anos deva contemplar uma visão coerente de como a evolução cognitiva, emocional, acadêmica, social e física desse contingente de alunos pode se desenrolar. Embora não seja o que está inicialmente proposto no documento divulgado pelo Mec até agora, mas que ainda vai ser revisado, segundo o mesmo órgão, é nessa concepção alinhada entre as etapas em que acreditamos e que recomendaremos.

O desafio é preparar profissionais para ensinar alunos em nível de excelência e com equidade, em salas de aula de composição discente bastante diversas e cheias de dificuldades de ordem variada, que podem ser resumidos pelo bordão: a busca pela eficácia escolar em qualquer contexto.

Fizemos uma proposta de estrutura lógica que divulgamos e explicamos a seguir. A ideia é compartilhar toda a nossa linha de raciocínio, de forma a receber críticas e contribuições que não apenas possam melhor especificar os temas do debate mais amplo sobre formação docente, mas apromorem nossas proposições e aguçem o desejo difuso de se transformar o preparo de profissionais que cumprem uma função estratégica em nossa sociedade. Divulgaremos em nossos canais o que estamos pensando para quem quiser acompanhar, entender, contribuir e, eventualmente, até implementar o que estamos propondo.

A proposta de estrutura a seguir está baseada em dois conceitos principais formulados por dois autores muito famosos no ambiente educacional e de políticas de formação docente fora do Brasil, mas praticamente desconhecidos por aqui. Felizmente, alguns de seus artigos mais importantes foram traduzidos para o Protuguês e estão disposnívels online.

O primeiro é:

SHULMAN, Lee S. Conhecimento e ensino: fundamentos para a nova reforma. Cadernos Cenpec | Nova série, [S.l.], v. 4, n. 2, june 2015. ISSN 2237-9983. –Disponível em: <http://cadernos.cenpec.org.br/cadernos/index.php/cadernos/article/view/293>. Acesso em: 23 feb. 2019. doi:http://dx.doi.org/10.18676/cadernoscenpec.v4i2.293.

A principal formulação de Shulman em 1987 e ainda referência mundial na concepção da formação de docentes, é que eles devem dominar as seguintes categorias de conhecimentos (p.206):

• conhecimento do conteúdo;
• conhecimento pedagógico geral, com especial referência aos princípios e estratégias mais abrangentes de gerenciamento e organização de sala de aula, que parecem transcender a matéria;
• conhecimento do currículo, particularmente dos materiais e programas que servem como “ferramentas do ofício” para os professores;
• conhecimento pedagógico do conteúdo, esse amálgama especial de conteúdo e pedagogia que é o terreno exclusivo dos professores, seu meio especial de compreensão profissional;
• conhecimento dos alunos e de suas características;
• conhecimento de contextos educacionais, desde o funcionamento do grupo ou da sala de aula, passando pela gestão e financiamento dos sistemas educacionais, até as características das comunidades e suas culturas; e
• conhecimento dos fins, propósitos e valores da educação e de sua base histórica e filosófica.

E o segundo:

YOUNG, MICHAEL F. D., O futuro da educação em uma sociedade do conhecimento: o argumento radical em defesa de um currículo centrado em disciplinas. Revista Brasileira de Educação [en linea] 2011, 16 (Septiembre-Diciembre): [Fecha de consulta: 23 de febrero de 2019] –Disponible en:<http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=27520749005> ISSN 1413-2478

O argumento que selecionamos desse ícone da sociologia da educação, que diferenciou “conhecimento poderoso e conhecimento dos poderosos” e que se transformou em arauto da democratização desses conhecimentos por meio da educação escolar e de políticas curriculares competentes e por disciplinas é que:

Neste artigo, quero argumentar que, se vamos dar um sentido sério à importância da educação em uma sociedade do conhecimento, é necessário tornar a questão do conhecimento nossa preocupação central, e isso envolve o desenvolvimento de uma abordagem ao currículo baseada no conhecimento e na disciplina, e não baseada no aprendiz, como presume a ortodoxia atual. Além disso, eu argumentaria que essa é a opção “radical” − não, como afirmam alguns, a opção conservadora − desde que saibamos claramente o que significa, para nós, conhecimento. Uso a palavra “radical” aqui para me referir à questão chave que a maioria dos países enfrenta hoje: a persistência de desigualdades sociais na educação. Prefiro a palavra “radical” a alternativas como “progressista” e “crítica”. Enquanto a primeira tem uma associação próxima e, em minha opinião, infeliz com pedagogias centradas no aluno e com a ênfase no “aprender da experiência”, a segunda, embora faça parte de uma herança intelectual muito mais ampla, remontando a Kant e ao Iluminismo do século XVIII, tem sido relacionada, em estudos educacionais, à retórica oca do muito que passa por pedagogia crítica.

Assim, montamos a seguinte estrutura de disciplinas a serem agrupadas por blocos, os quais apresentamos a seguir:

1.Conhecimento sobre a lógica curricular de cada disciplina; 2.Conhecimento didático-pedagógico; 3.Conhecimento sobre os alunos e suas características; 4.Conhecimento institucional e 5.Conhecimento e estruturação pessoal e profissional

1.Conhecimento sobre a lógica curricular de cada disciplina – a base do curso será a compreensão da lógica das principais disciplinas do currículo de educação infantil e ensino fundamental I, em uma perspectiva do que se pratica em países desenvolvidos, reconhecendo também, o caráter compensatório para uma formação escolar muito provavelmente deficiente nas disciplinas de Língua Portuguesa, Matemática, Língua Inglesa, Ciências, História e Geografia. Utilizaremos as melhores referências curriculares em termos de estrutura, linguagem, detalhamento e progressão, além de fazer uma releitura da BNCC brasileira, de forma a explorar as sinergias ou antagonismos com os de Ontário, Hong Kong, Reino Unido, Portugal, Finlândia, Common Core e International Baccalaureate, principalmente;

2.Conhecimento didático-pedagógico – refere-se ao domínio dos processos de instrução e do manejo dos ambientes de aprendizagem, com vistas a garantir o ensino de cada uma das disciplinas e áreas de conhecimento, a partir do currículo, mas já em uma lógica interdisciplinar de planejamento e execução das atividades didatico-pedagógicas;

3.Conhecimento sobre os alunos e suas características – explicita a interrelação entre as diferentes opções didáticas e as condições individuais, socioculturais e contextuais dos alunos: identificar, estudar e explorar as possibilidades didáticas em relação às diferentes características de cada aluno na hora de aprender cada item do currículo;

4.Conhecimento institucional – sobre o funcionamento da escola, da rede e do arcabouço institucional e legal da educação no Brasil, Unidade da Federação, município e rede onde está inserido;

5.Conhecimento e estruturação pessoal e profissional – a partir da aquisição de uma sólida base teórica e cultural em relação às referências bibliográficas mais influentes no contexto brasileiro, latinoamericano e ocidental – textos gerais sobre filosofia, sociologia, história da educação e obras clássicas e contemporâneas (artes plásticas, literatura, música, cinema, etc) que formam um repertório mínimo para o exercício da profissão docente no âmbito da Educação Infantil e do Ensino Fundamental I

O item 2 é, obviamente, o mais importante aos quais os demais se subordinam e lhe servem de base. Cada bloco deverá contribuir de forma diferente para que o de didática se fortaleça.

Comentários são bem-vindos!

Webinários (seminários na WWW) de qualidade para ficar realmente por dentro de temas educacionais atuais

Todos nós sabemos que na internet tem de tudo. A máxima “o papel aceita tudo” ganhou aparente sofisticação com os variados recursos que a informática permite. Agora é a internet que aceita tudo . . . Exatamente como ocorreu nas sucessivas revoluções intelectuais, políticas e de costumes causadas pela introdução de cada nova tecnologia, cá estamos nós mudando nossa forma de ver o mundo por ter contato com ideias e práticas de outras pessoas e contextos. Desta vez, diferentemente das demais como o rádio e a TV, de maneira muito mais interativa. Uma “verdadeira” realidade virtual.

Obviamente que não falta na internet, como não faltou nos demais canais de comunicação, muito lixo para emburrecer ou limitar nossa percepção de mundo. Como sempre, há muito mais conteúdo descartável do que oportunidades de aprender de verdade, abrir as idéias, conhecer nossos conceitos e contextos. O novo campo para expansão produção de conteúdo irrelevante e tacanho é a educação formal, escolar – aquele tipo de aprendizado que depende da frequência regular a um ambiente estruturado para se aprender habilidades e conteúdos que não se aprende “na rua”, ou “na internet” no sentido amplo.

A questão é que muita gente, principalmente em países subdesenvolvidos como o Brasil, nos quais a educação escolar ainda não está bem estruturada, o conteúdo de baixa qualidade concorre de verdade com o que interessa para fazer os estudantes aprenderem mais e os professores melhorarem suas práticas.

Hoje trago duas oportunidades interessantes para realmente se aprender por meio de conteúdos gratuitos divulgados eletronicamente. Ambos têm foco em políticas educacionais e gestão de redes escolares. Uma é gringa, produzida pela OCDE no âmbito do Pisa e outra é super local, produzida pela Secretaria da Educação de Sobral, no Ceará.

Os seminários via web, ou webinários sobre os achados do Pisa, estão disponíveis aqui:

http://www.oecd.org/pisa/webinars/

Os webinários do Pisa tratam de temas muito interessantes cuja análise aprofundada foi possibilitada pela iniciativa, que teve sua primeira avaliação aplicada em 2000. Desde então produzindo uma quantidade fenomenal de dados sobre políticas e práticas educacionais, além de da captação de informação sobre o perfil social dos alunos e de condições de ensino das escolas onde estudam. Por exemplo, há um recente sobre a educação na China explicando como o sistema chinês funciona.

Já os conteúdos da Seduc Sobral apresentam alguns eventos do dia a dia da Secretaria da Educação, mas também a nova documentação curricular do município, que está aqui:

http://sobral.ce.gov.br/site_novo/sec/educacao/#

Recomendo o II Seminário sobre a Experiência Educacional de Sobral (SEES) – 20 anos, cuja próxima edição será dias 30 e 31 de março, quinta e sexta desta semana. O conteúdo depois fica disponível no site e no canal do Youtube. Esses seminários ocorrem mensalmente e são uma solução que a Prefeitura de Sobral organizou para atender à demanda por visitas à sua rede municipal que emergiu com a divulgação dos dados do Ideb de 2015. Para situar, a cidade apresentou alto rendimento de seus alunos tanto no 5º ano quanto no 9º do ensino fundamental, com o melhor desempenho no Brasil para municípios de grande porte.

As inscrições para a edição de março podem ser feitas por este link:

https://doity.com.br/seminario-educacao-sobral

Além do interesse pelo conteúdo em si de cada iniciativa, Sobral e Pisa agora vão passar a ter muito mais em comum. Em maio será aplicada a prova do Pisa para todos os alunos de 15 anos (faixa em que se concentra a avaliação) matriculados na cidade, não importando se estão na rede municipal ou estadual. Essa avaliação externa e censitária do Pisa em um município brasileiro é inédita e é decorrência direta dos novos padrões curriculares que serão implementados na cidade a partir de 2018. A cidade vai fazer um diagnóstico do desempenho de seus alunos no Pisa porque com o novo currículo a Prova Brasil não será mais capaz de medir o conhecimento dos alunos dessa cidade do sertão nordestino. Agora eles vão buscar de verdade o padrão internacional estabelecido pelos países desenvolvidos.

Fica a dica…

Um currículo para guiar a busca por novos caminhos

Há anos estudando exemplos, referências e a fundamentação teórica de documentos curriculares de alguns países desenvolvidos e, com base neles, fazendo comparações com alguns dos currículos produzidos no Brasil, percebemos o longo caminho que boa parte dos educadores brasileiros ainda têm pela frente em termos de 1) compreender a importância desse potente instrumento de planejamento e gestão pedagógica e 2) aceitar materializar esse tipo de documento de planejamento em suas escolas a partir de um patamar bem mais lato de rigor acadêmico.

Alguns contextos no Brasil, ainda como exemplos de mais absoluta exceção, começaram a perceber a enorme contribuição que um documento curricular bem feito pode dar para a consolidação da qualidade da educação e começaram a trilhar novas rotas mais desafiadoras. São expectativas de aprendizagem apresentadas de forma mais clara e organizada, desdobradas de forma lógica e progressiva, que permitem a toda a equipe pedagógica de uma escola ou rede definir prioridades e mobilizar os recursos adequados para concretizá-las.

A cidade de Sobral, no interior do Ceará, mais uma vez sai na frente e está em fase de conclusão de suas propostas curriculares de Língua Portuguesa e de Matemática para todo o ensino fundamental local que já foi municipalizado. O Município, que tem a melhor rede pública de ensino do Brasil*, percebeu que com sua capacidade instalada (equipe, infraestrutura e recursos materiais) poderia ir bem mais longe do que já chegou e resolveu impor-se um novo patamar de desafios pedagógicos.

O documento de Matemática já está pronto e em validação final pela rede local. O de Língua Portuguesa está quase lá. Para que outros municípios possam conhecer o mais novo trabalho da equipe de Sobral e até se animar para seguir de perto seus próximos passos, passamos a publicar aqui e na CBN alguns componentes essenciais de sua estrutura.

Hoje apresentaremos a estrutura completa dos componentes de Língua Portuguesa (eixos, subeixos e expectativas) e um detalhamento para o eixo de ORALIDADE. Comentários e sugestões são bem vindos e podem ajudar Sobral a ter um documento ainda melhor.

A estrutura:

Nível de complexidade Eixos, Subeixos e Expectativas
EIXO 1 – Oralidade EIXO 2 – Leitura EIXO 3 – Escrita EIXO 4 – Gramática
Expectativas de introdução à lógica escolar acadêmica 1.1 Consciência fonêmica 2.1 Decodificação 3.1 Sistema de escrita 4.1 Lógica da Língua
1.1.1 Desenvolver a consciência fonêmica 2.1.1 Desenvolver a consciência alfabética

2.1.2 Decodificar

3.1.1 Desenvolver as habilidades motoras finas

3.1.2 Apropriar-se do sistema de escrita

4.1.1  Incorporar, de modo funcional, as regras fonéticas e fonológicas

4.1.2 Incorporar, de modo funcional, as regras morfológicas

Expectativas instrumentais de comunicação 1.2 Apresentação e colaboração discursiva 2.2 Desenvolvimento da fluência leitora 3.2 Registro e uso de informações 4.2 Apropriação da Língua
1.2.1 Respeitar as regras de cortesia e de interação

1.2.2 Realizar apresentações orais

2.2.1 Ler com fluência 3.2.1 Organizar registros e notas

3.2.2 Registrar informações coletadas em diferentes fontes

3.2.3 Produzir pesquisa

4.2.1 Grafar palavras corretamente

4.2.2 Apreender, de modo funcional, as regras e os mecanismos de estrutura e formação das palavras

4.2.3 Incorporar a classificação das palavras e suas funções linguísticas

4.2.4 Garantir a fluência, coerência e eficácia do texto, utilizando os sinais de pontuação

Expectativas de expressão, compreensão e de autoria textual 1.3 Expressão e Compreensão oral 2.3 Compreensão leitora 3.3 Produção textual 4.3 Construção e relação de sentido da língua
1.3.1 Expressar-se de maneira efetiva nas diferentes interações

1.3.2 Compreender textos orais

2.3.1 Identificar a situação de comunicação que deu origem ao texto

2.3.2 Compreender textos escritos

2.3.3 Analisar elementos e estruturas de diferentes tipos de texto

2.3.4 Comparar textos escritos

3.3.1 Planejar a escrita de acordo com a situação de comunicação

3.3.2 Redigir diferentes tipos de texto

3.3.3 Revisar e reescrever o texto

3.3.4 Editar o texto escrito

4.3.1 Assegurar a concordância verbal conjugando os verbos corretamente

4.3.2 Compreender enunciados, sua construção e a relação entre os seus termos

4.3.3 Inferir os diversos significados ou efeito de sentido do uso de palavras ou expressões

Explicando a estrutura:

Temos os 4 eixos usuais, presentes nas referências internacionais das quais partimos, e em algumas nacionais: Oralidade, Leitura, Escrita e Gramática. É importante ressaltar que até esta ordem segue uma lógica de progressão, neste momento da esquerda para a direita, pois primeiro se aprende a falar, depois a ler e em seguida a escrever respeitando as regras de cada língua.

Depois há uma dupla lógica de progressão que se dá na leitura do quadro anterior, agora no movimento de cima para baixo e que é dada:

a) pelos três níveis de progressão cognitiva que unem os 4 eixos (Oralidade, Leitura, Escrita e Gramática) por tipo de expectativa de aprendizagem que eles apresentam: Expectativas de introdução à lógica escolar acadêmica, Expectativas instrumentais de comunicação e Expectativas de expressão, compreensão e autoria textual;

b)pela ordem das expectativas de aprendizagem desdobradas a partir de cada subeixo, por exemplo, o subeixo 1.2 Apresentação e colaboração discursiva tem como expectativas: 1.2.1 Respeitar as regras de cortesia e de interação e 1.2.2 Realizar apresentações orais

Para compreender melhor como funciona a lógica do novo currículo que está sendo preparado pela equipe técnica de Sobral, com ajuda minha e da Paula Louzano, segue o eixo de Oralidade:

EIXO 1 – Oralidade
Subeixo 1.1: Consciência fonêmica
Expectativa de aprendizagem: 1.1.1 Desenvolver a consciência fonêmica
Subeixo 1.2: Apresentação e colaboração discursiva
Expectativas de aprendizagem: 1.2.1 Respeitar as regras de cortesia e de interação e 1.2.2 Realizar apresentações orais

Subeixo 1.3: Expressão e Compreensão oral
Expectativas de aprendizagem: 1.3.1 Expressar-se de maneira efetiva nas diferentes interações e 1.3.2 Compreender textos orais

Isso significa que, ao final do 9º ano o aluno deverá ser capaz de respeitar as regras de cortesia e de interação, realizar apresentações orais, expressar-se de maneira efetiva nas diferentes interações e compreender textos orais.

Em que nível e com que progressão essas expectativas serão desenvolvidas pelos alunos, sob a orientação e estímulo de seus professores, é o “recheio” do currículo de Sobral que se encontra neste momento em processo final de aprovação na rede.

Outras matérias e menções ao ensino de qualidade de Sobral:

Além do currículo, a Neurociência pode salvar o Brasil de seu destino educacional medíocre

Muitas vezes no nosso boletim Missão Aluno da CBN já dissemos o quanto é importante levar em conta as descobertas recentes das Neurociências na hora de desenhar programas educativos em geral e políticas públicas educacionais em particular. Ainda vemos muito pouca influência deste ramo das Ciências no setor educacional do Brasil, nas escolas de educação, nas escolas privadas (com raras exceções) e principalmente no desenho de currículo e de políticas públicas.

Também já apresentei minha leitura sobre a questão, que chega a ser simplória: o setor educacional brasileiro ainda não incorpora essas descobertas porque pouca gente do ramo lê em inglês e também porque não tem interesse em trocar as explicações e posições socio-políticas por outras mais científicas, cuja produção está fora da sua própria área de atuação profissional. Todos nós perdemos com isso.

Por isso, adiciono à minha luta por um currículo ambicioso, de padrão de país desenvolvido para todas as crianças brasileiras, a luta e a “militância” pela incorporação das descobertas e pela integração das áreas de Neurociências e de Educação, principalmente nas Escolas e Faculdades de Educação do Brasil inteiro.

O BID fez recentemente um breve resumo, mas daqui para a frente vou postar outras informações aqui porque, para algumas pessoas do setor da educação, principalmente quem é muito ligado às Faculdades de Educação, BID, Banco Mundial, Unesco, OCDE é tudo a mesma coisa: a institucionalização do capitalismo financeiro selvagem, portanto, não deveriam ser levados a sério.

O que disse o BID em seu blog – Blog do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) – La Educación de Calidad És Posible:

1. O desenvolvimento do cérebro na primeira infância e na adolescência é fundamental

2. O estresse crônico afeta o aprendizado

3. Atividades em sala de aula podem rapidamente provocar melhorias visíveis no desenvolvimento do cérebro.

Detalhando:

1. O desenvolvimento do cérebro na primeira infância e na adolescência é fundamental

O cérebro passa por um período de desenvolvimento e maturação que começa antes do nascimento da criança e continua até perto dos 24 anos. Durante a primeira infância e especialmente durante os primeiros três anos de vida de uma criança, o cérebro atinge um período de grande crescimento e desenvolvimento, com uma “plasticidade” muito maior que a do cérebro adulto. De fato, os pesquisadores do Centro de Desenvolvimento Infantil da Universidade Harvard concluíram que “o desenvolvimento da estrutura do cérebro de uma criança constitui a base para sua aprendizagem, comportamento e saúde em geral”. Não é de estranhar, então, que experiências negativas em idades tenras da vida têm consequências a longo prazo, mesmo na idade adulta. Na adolescência, o cérebro também sofre alterações consideráveis. Respostas [cerebrais a situações] com alta carga emocional, por exemplo, são mais proeminentes na adolescência do que na infância ou na idade adulta.

[. . . ] Pais, parentes, cuidadores, professores e autoridades governamentais têm em suas mãos oportunidades de desempenhar papéis na definição das experiências-chave para o desenvolvimento cerebral.

2. O estresse crônico afeta o aprendizado

No campo da Neurociência é sabido que os ambientes de estresse crônico podem ter um efeito direto sobre o desenvolvimento de crianças e adolescentes. Biomarcadores conectados à massa cinzenta e branca do cérebro, ou às funções do cérebro, podem fornecer pistas sobre os efeitos do estresse sobre os mais jovens. Estes efeitos quantitativos estão diretamente correlacionados com resultados psicológicos e educacionais. Por exemplo, a exposição crônica ao estresse pode levar [ao adolescente a dar] respostas emocionais extremas a um stress diário comum, o que afeta a sua segurança. Pode também afetar o desenvolvimento do córtex pré-frontal, que impacta a capacidade de auto-regulação, planejamento e função executiva.

Crianças e jovens que cresceram em comunidades de alto risco, que enfrentam muitas adversidades como a pobreza, a violência na comunidade e os serviços básicos limitados podem ser considerados como vivendo em condições de estresse crônico. Isso explica em parte por que os resultados de testes padronizados como o PISA em 2012 mostram que os estudantes pobres na América Latina estão dois anos de ensino atrás de seus pares de países de nível socioeconômico mais elevado, em Matemática, leitura e Ciências. Os conhecimentos da Neurociência podem nos ajudar a entender a como desenhar escolas e métodos de ensino para atender às necessidades desses alunos.

3. Atividades em sala de aula podem rapidamente provocar melhorias visíveis no desenvolvimento do cérebro.

Desenvolver atividades relevantes, provendo apoio adequado em contextos escolares positivos, podem resultar rapidamente em melhoras visíveis na estrutura do cérebro. Deve-se dar atenção para capacitar os professores para criar experiências e interações positivas que possam levar a essas melhorias, não só no desenvolvimento neurológico da criança ou jovem, mas também no seu desenvolvimento cognitivo, social e emocional. Essas intervenções podem melhorar não só a aprendizagem em sala de aula, mas também o comportamento. Por exemplo, os professores podem implementar técnicas para melhorar a função executiva, enquanto outras escolas podem usar a meditação para ajudar a lidar com certos comportamentos.

Segundo o site “Edutopia” (para o qual o site do blog do BID nos direciona) as funções executivas, quando se desenvolvem completamente, levam a um jovem adulto a conseguir fazer o seguinte:

  • Administrar a estabilidade emocional,
  • Controlar impulsos
  • Planejar
  • Responder, de forma produtiva, aos feedback corretivos
  • Aprender com os erros
  • Persistir em situações negativas
  • Refletir cuidadosamente antes de tomar decisões e fazer escolhas

Em relação às funções executivas, o site apresenta as seguintes sugestões para ajudar os alunos a melhorar as funções executivas:

  1. Professor que modela a organização (da sala e a sua própria) e as discussões em sala de aula
  2. Professor fornece instruções claras
  3. Usar alunos para explicar como se faz ou como não se faz uma determinada atividade explicada pelo professor
  4. O professor checa a compreensão dos alunos durante as aulas
  5. Passagem gradual e controlada das responsabilidades (para os alunos
  6. Feedback

Para quem desejar, mais detalhes no original em inglês, mas vale a pena ler o post completo!!

1. Teacher Modeling and Discussion

Model your systems of organization (filing, recording progress, how you set up the classroom, etc.). Draw students’ attention to the organizational strategies that you use during instruction.

2. Clear Instructions

Initially, when providing organizational strategies, emphasize them both verbally and in writing. Give students clear instructions for procedures, projects, or class transitions as you model organizational structure.

3. Student Modeling

Assign selected students to model the procedures that you’ve described, such as the right way and the wrong way to organize their class groups during collaborative work time.

4. Checking for Understanding

Stop between segments of complex or multi-step instructions, allowing students to organize their thoughts and ask questions. Ask students to repeat back their understanding of the instructions so that they can respond to your feedback and reorganize appropriately.

5. Gradual Release of Responsibility

Throughout the year, plan a gradual decrease in the scaffolding that you provide for student organization of time and goals. For example, back away from giving them your timeline schedule for parts of a book report or project, let them plan and write their own timelines, and revise these as you help them monitor their progress.

6. Feedback

Observe student progress and setbacks and provide feedback with opportunities for them to revise their organizational systems.

Série sobre o impacto das mudanças curriculares nos EUA

Nesta segunda feira, no Boletim Missão Aluno da Rádio CBN, a Paula Louzando começou uma série de 4 programas sobre o impacto da implementação do novo currículo americano, conhecido como Common Core, ou Núcleo Comum, que traz para todos os estados da federação americana que aderirem ao documento o detalhamento das disciplinas de Língua Inglesa e de Matemática.

A perspectiva de análise da Paula é bem interessante porque ela não só é uma pesquisadora de alto nível no tema, quanto é mãe de dois alunos estudando na rede pública do Estado da Califórnia. O Estado resolveu aderir ao programa em profundidade* e as escolas estão passando por uma verdadeira revolução.

É sobre isso que ela vai contar neste e nos próximos 3 programas. Aproveite para conhecer melhor a iniciativa e saber porque achamos a BNCC apresentada pelo Governo Federal tão frágil e pobre, quando comparada a documentos de mesma finalidade em países desenvolvidos social e economicamente.

Nesse programa a Paula mencionou também a pesquisa e o livro da Prof. Jo Boler de Stanford sobre ensino da matemática. Este é o link: https://www.youcubed.org/

 

* Segundo o site do Common Core, “a implementação completa é definida no ano letivo em que o Estado da Federação espera que os profesores de educação infantil ao 12º ano incorporem os parâmetros [do currículo] em suas atividades pedagógicas em sala de aula nessas disciplinas”