Operação Prato Feito e o desepenho da alfabetização nos municípios de São Paulo

Imagino que qualquer pessoa que tenha visto as reportagens sobre a Operação Prato Feito tenha ficado roxo de indignação! Quem milita na área, então, como eu, chegou a sair fumacinha das orelhas…

https://g1.globo.com/sp/itapetininga-regiao/noticia/operacao-prato-feito-relatorio-da-pf-aponta-que-unidade-de-ovo-foi-comprada-a-r-1215-em-tiete.ghtml

https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/operacao-prato-feito-policia-federal-e-cgu-fazem-buscas-na-regiao-de-campinas.ghtml

http://agenciabrasil.ebc.com.br/justica/noticia/2018-05/pf-atualiza-numeros-da-operacao-prato-feito

No site do Ministério Público Federal foi publicada uma lista com as cidades onde encontraram irregularidades:

A Operação Prato Feito detectou irregularidades nas cidades de Águas de Lindoia, Araçatuba, Araras, Barueri, Caconde, Cosmópolis, Cubatão, Embu das Artes, Holambra, Hortolândia, Itaquaquecetuba, Jaguariúna, Laranjal Paulista, Leme, Mairinque, Mauá, Mogi Guaçu, Mongaguá, Monte Mor, Paulínia, Peruíbe, Pirassununga, Registro, São Bernardo do Campo, São Paulo, São Sebastião, Sorocaba, Tietê, Várzea Paulista, Votorantim.

Resolvi entender como estão os resultados educacionais dessas cidades citadas em seu conjunto e destacar três delas. Uma vez que não temos conhecimento exatamente há quanto tempo esses esquemas estavam sendo operados em cada cidade, apenas uma indicação geral da PF e MPF de que eram esquemas, longevos, ativos por mais de 20 anos, escolhi as cidades de Monguaguá, Barueri e Embu das Artes, porque nas reportagens sobre o caso apareceram questões que chamaram a minha atenção. Resolvi olhar o resultado delas mais de perto:

a) Mongaguá – onde a PF encontrou um expressivo volume de dinheiro em espécie ;

b) Barueri – cidade com PIB percapita dos mais altos do Estado (R$ 182 mil – 11º no ranking do País) e onde a Prefeitura tem sido envolvida em questões com a polícia e a Justiça de maneira recorrentealém das supeitas levantadas na Operação;

c) Embu das Artes – onde além de envolvimento nesta operação específica, o Prefeito encontra-se envolvido em graves suspeitas.

Então vamos aos dados. Em primeiro lugar, em relação ao conjunto do Brasil e às escolas do Estado de São Paulo. O gráfico a seguir mostra que, para a alfabetização, medida pela ANA de 2016, os alunos de mais baixa renda em escolas de municípios incluídos na Operação Prato feito (OPF) estão, aparentemente, em desvantagem em relação aos seus pares do Estado de São Paulo, mas não em relação ao restante do Brasil, onde há muitas escolas com resultados piores. Abaixo de 525 pontos a criança mal compreende o que lê no 3º ano do ensino fundemantal.

ANA_2016_BRZ_SP_PF_NSE

Em Barueri, uma cidade “rica” com PIB percapita de R$182 mil, mas onde 34,5% da população conta com renda familiar de até 1/2 SM poderia oferecer educação de melhor qualidade à sua população mais pobre, como se vê no gráfico. Mas o que se vê é que as melhores escolas com alunos de NSE mais baixo (17 – médio baixo e 18 médio) apresentam desempenho pior que seus pares no Estado de SP.

ANA_2016_BRZ_SP_PF_NSE_Barueri

O que também ocorre em Embu das Artes e em Mongaguá:

ANA_2016_BRZ_SP_PF_NSE_Embu

ANA_2016_BRZ_SP_PF_NSE_Mongagua

Muitas informações podem ser tiradas das bases de dados públicas, como essas que geraram os gráficos acima, mas será importante conhecer melhor a duração e o escopo das falcatruas envolvendo escolas nesses (e em outros, óbvio) municípios. Os gráficos mostram que se pode fazer mais, com menos. E que alunos de NSE baixo em outras cidades fora do Estado de São Paulo e fora da OPF apresentam desempenho melhor que estas. Quanto mais transparência, melhor!

 

2 Respostas

  1. Proposta do estudo muito interessante. Penso que merece o investimento no quantitativo para trazer mais conclusões. A análise gráficas do agregado Brasil (“forçando um pouco”) parece indicar que estão roubando nas escolas de maior nível socioeconômico e em especial naquelas com os melhores desempenhos acadêmicos médios, concorda?

    Penso que o tema merece atenção e aprofundamento. Será que existe algum outro indicador (mais abrangente) que possa ser utilizado como sinalizador de menor nível de corrupção? Essa é uma dica a ser pedida pra alguém do MP.

  2. ilda maria de godoy silva | Responder

    Eu também me sinto indignada com essas noticias de desvio de dinheiro da Educação paulista! Será que todos os governantes-prefeitos, de alguma maneira, se sentem tentados a desviar tais recursos por ignorância, incompetência ou mau caráter mesmo? O próprio presidente da Assembleia está envolvido!!!!! Não nos chegam explicações plausíveis nem do governador do Estado!!!!! Nos últimos 20 anos assistimos a decadência do ensino em território paulista. Ainda tentamos, nós os professores, garantir a educação do futuro mas diante do arrocho salarial que nos foi imposto nos tornamos impotentes diante de tantos problemas sem solução.

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