Arquivos Diários: 28 maio, 2018

E o PISA? É coisa nossa…

Este era o post da semana passada, que esqueci de publicar…desculpem, leitores!

Quando eu era pequena, não perdia o program do Silvio Santos nenhum domingo. Havia um quadro com jurados e na hora de formar a mesa, a cada entrada dos membros tocavam uma musiquinha que falava o nome do jurado e um jinglezinho: é coisa nossa, mas que vai vai, mas que vai vem… então, quando algo importante entra em um cenário, estou condicionada a lembrar da musiquinha que introduzia as celebridades de então, que compunham o conjunto de avaliadores do programa de calouros do Sílvio.

O PISA está na área! O Pisa é coisa nossa! Quem nos lembrou isso é a repórter Renata Carfardo do Estadão, em mais um furo de reportagem (lembram que foi ela que dedurou o vazamento das provas do Enem em uma gráfica?). Ela conseguiu descobrir uma escola onde a prova internacional estava sendo aplicada e foi lá entrevistar os alunos. Essa informação costuma ser top secret, então foi uma sacada ela ter ido lá acompanhar a aplicação dessa importante prova, desconhecida pelo educadores brasileiros. O público só sabe do Pisa, no máximo, a posição no ranking, o que é normal. Mas para os educadores e autoridades educacionais para além do Inep (que coordena no Brasil a aplicação da prova) é essencial conhecer os aspectos técnicos de sua elaboração e o que seus relatórios revelam para o desenho e implementação de políticas públicas.

O Pisa existe desde 2000 e é aplicado para estudantes de 15 anos (entre 15 anos e 3 meses e 16 anos e 2 meses completos no início do período de testes) que estejam regularmente matriculados instituições formais de ensino, a partir do 7º ano. Assim, os alunos brasileiros que estão fora da escola e com atraso escolar de mais de 3 anos não fazem a prova. No Brasil, a série modal de aplicação do Pisa é o 10º ano, ou seja, o 1º ano do Ensino Médio. O exame foi concebido dessa forma porque tem como objetivo indicar para os países participantes o que é que os alunos que estão concluindo o que, na maioria deles, é a conclusão da educação básica e compulsória. Ou seja, medir a capacidade que os egressos do sistema mais básico de educação, no qual, em geral, os alunos estão submetidos a um único currículo, teriam para continuar estudando e aprendendo, como forma de prever a composição de capital humano de cada país.

Em 2018 são 78 países participantes, número que vem aumentando bastante desde a primeira edição de 2000, que começou com 32, sendo que 28 deles eram membros da OCDE. O Brasil, embora não membro, participou desde a primeira edição. Foi uma decisão muito ousada do Ministério da Educação à época, pois eles sabiam muito bem que os alunos brasileiros iam se sair muito mal. Mas também sabiam que o Pisa seria um importante instrumento de cobrança de qualidade de ensino, em um país em que a maioria da população não tem a menor ideia do que seja educação de qualidade.

E é exatamente por isso que me espanto quando pergunto em todas as palestras e encontros que tenho com educadores se eles já leram algum relatório de resultados ou dos aspectos técnicos do Pisa e a resposta é, para a quase totalidade das platéias, um sonoro não…

Em primeiro lugar, os relatórios técnicos do Pisa são bastante claros e explicam como os exames são preparados, o que é uma questão fácil, de nível 2 e uma questão muito difícil (que um em cada 10 acertam), do nível 6. As provas contam com questões de múltipla escolha, e dissertativas curtas e longas. Para a compreensão leitora, por exemplo, é muito interessante entender o tipo de texto que a prova apresenta. Quem for estudar as questões do Pisa vai perceber que tanto os textos, quanto as perguntas são muito diferentes das que os alunos estão acostumados, como Prova Brasil e até o Enem. Os textos chegam a ser bem mais complexos e as perguntas idem, pois são elaborados para cobrir todas as categorias de mobilização cognitiva descritas pela taxonomia de Bloom, outra referência técnica banal fora do Brasil, mas simplesmente ignorada por aqui.

Assim, recomendo que as equipes de secretarias de educação e de escolas, tanto públicas, quanto privadas, passem a estudar o Pisa e seus produtos. Não para melhorar a nota do Brasil no teste, pois, pelo menos para 2018, não dá mais tempo. Mas para aprender mais sobre as questões que revelam o que está por trás das notas e como fazer até para melhorá-las, mas, principalmente, para fazer com que os alunos aprendam a raciocinar de formas mais sofisticadas.

No site PISA Products, é possível baixar todos os relatórios técnicos que embasam a elaboração das provas  (Assessment frameworks: Theory behind the surveys – what they aim to achieve and how they’re developed) e até fazer um simulado!

O relatório de 2015 se chama ” Excellence and Equity in Education“!! Que exatamente a inspiração desde blog que acredita que podemos ter no Brasil a excelência acadêmica para todos. Mas sem entender o Pisa e os currículos dos países desenvolvidos, vai ficar muito difícil conseguir qualquer uma delas…