Inovação (de verdade) em sala de aula

Faço referência ao artigo de Cláudio de Moura Castro na Veja desta semana, edição 2504. Infelizmente, a Veja não oferece o link aberto para esta coluna. Pelo menos, não ainda. Mas consegui o link para o experimento ao qual ele se refere na revista, que é o que gostaria de comentar em mais detalhe hoje aqui e na CBN.

O articulista, que além da larga experiência profissional com política educacional, é um estudioso muito rigoroso do assunto educação e também consultor estratégico do Grupo Positivo de Educação, o qual resolveu encarar a aclimatação de uma ótima ideia gringa: o projeto MET – Measures of Effective Teaching da Bill and Melinda Gates Foundation.

Antes de explicar do que se trata, é importante chamar atenção para o que eu (e algumas poucas pessoas com coragem para questionar “unanimidades”) chamo de fashion week das políticas educacionais – empresários e empreendedores filantrópicos e/ou comerciais que trazem para o Brasil as últimas novidades que o mercado americano (normalmente, mas não só) criou para a educação.

Exemplos: Charter Schools, ou “escolas independentes” que estão fora das regulamentações governamentais e, principalmente, selecionam professores não sindicalizados,  Teach for América ou programas ultra simplificados de formação docente para baratear o custoso processo de formação profissional, Khan Academy e outros programas de aulas ruins à distância para economizar na contratação de bons professores.

Há outros, mas esses são alguns dos “must have” dos descolados brasileiros que, como o “Homem que Falava Javanês” de Lima Barreto, se apresentam como bem informados sobre os segredos do sucesso da educação moderna “lá de fora”. A questão é que esses “must have” têm uma característica em comum: são apenas para os filhos dos outros. Dos pobres, em geral. Os fashionistas da educação brasileiros, ao contrário do que propõem para as redes públicas brasileiras, usam para os seus filhos e netos produtos tradicionais como escolas de verdade, professores bem formados e certificados fora do Brasil, em escolas estrangeiras e caras. A transposição indiscriminada desses modismos produzem inúmeras “vítimas da moda”, exatamente como no mercado de moda no qual alguns poucos se beneficiam de fazer gente simples e ignorante vestir o que não lhe cai bem.

Feita a digressão introdutória de porque eu resolvi falar desta “novidade” hoje, sigamos para ela – justamente porque não a considero uma tendência de moda passageira e baratinha, cópia tipo H&M de desfile de alta-costura, mas, ao contrário, uma iniciativa de sistematizar o que JÁ OCORRE em boas escolas, com professores de carne e osso interagindo com alunos. Aqueles professores que, no Brasil, só as pessoas muito afortunadas conseguem para seus filhos.

O legal é que o Grupo Positivo resolveu testá-la no Brasil, de forma responsável e metodológica, emitindo um relatório com seus primeiros achados. Cláudio de Moura Castro e a Reitora da Universidade Positivo, Márcia Sebastiani, são os autores do estudo que trouxe para o Brasil, sob o nome de Programa Descoberta, o original da Fundação Gates. Só para esclarecer, o Grupo Positivo é um conglomerado educacional formado por vários negócios, incluindo escolas, que participaram diretamente do projeto – além de escolas públicas da Rede Municipal de Ensino de Curitiba, onde está localizada a sede da empresa:

O Programa Descoberta é um serviço oferecido aos colégios e que tem como objetivo contribuir para o desenvolvimento profissional dos professores. Seu ponto de partida é a realização de uma pesquisa voltada à elaboração de diagnósticos do desempenho dos professores, analisando o que tem impacto no aprendizado e o que não tem. De posse destes resultados o programa passa para sua etapa de melhorar a atuação dos professores. Isto se faz por meio de feedbacks personalizados e que levam à oferta de capacitações, de acordo com as vulnerabilidades que a pesquisa identifica em cada professor.

A primeira parte dele, cujos resultados preliminares o paper divulgado no artigo apresenta, consiste da observação estruturada de aulas (ou seja, com protocolos conhecidos pelo observador e pelo observado), somada a uma pesquisa com os alunos dessas aulas sobre que aspectos delas mais os ajudam a aprender. Tem cara de Ovo de Colombo, não?

E o que essa ideia de aparência simples, mas de execução extremamente complexa, procura identificar na prática dos professores?

OS SETE Cs:

Os “7Cs” referem-se aos seguintes aspectos (do original em inglês): care, control, challenge, clarify, confer, captivate e consolidate. Abaixo, explicita-se o sentido de cada um deles:

CUIDAR (care) – professores que cuidam, desenvolvem relações de apoio aos alunos e se esforçam para cultivar um ambiente emocionalmente seguro onde todos se sentem respeitados e a aprendizagem é o foco central.

CONTROLAR (control) – professores que controlam suas salas de aula monitoram o comportamento dos alunos cuidadosamente, gerenciando e redirecionando aqueles que não estão envolvidos com as atividades. Promovem também as condições de sala de aula necessárias a uma aprendizagem ótima. Eles estabelecem rotinas eficazes e antecipam eventos que possam prejudicar o ensino.

DESAFIAR (challenge) – professores que desafiam, estão preocupados com rigor e persistência. Eles sempre impõem aos alunos altos padrões acadêmicos e comportamentais, bem como monitoram o seu esforço. Eles esperam e exigem que os alunos perseverem, mesmo quando o trabalho é difícil, mas oferecendo apoio quando necessário.

ESCLARECER (clarify) – professores que esclarecem, verificam com frequência a compreensão dos alunos, corrigem equívocos, explicam ideias e conceitos de diferentes maneiras, e fornecem feedback para que os alunos entendam como melhorar seu trabalho.

ENGAJAR (confer) – professores que engajam, buscam e valorizam os pontos de vista dos alunos. Eles oferecem oportunidades frequentes para os alunos compartilharem suas perspectivas, bem como as valorizam e as põem em prática na sala de aula. 

CATIVAR (captivate) – professores que cativam, fazem o ensino envolvente. As aulas são frequentemente instigantes e relevantes para os estudantes e, por isso, mantêm a atenção deles.

CONSOLIDAR (consolidate) – professores que consolidam, ajudam os alunos a organizar o conteúdo de modo a torná-lo mais fácil de lembrar e de raciocinar. Esses professores revisam e resumem o que foi aprendido ao final de cada aula, destacando as relações entre as ideias. Eles relacionam o conteúdo com o que já foi estudado em aulas anteriores ou em outros assuntos. 

O artigo completo vai bem mais longe que isso, explicando de forma resumida e bem objetiva, em português, o que foi feito. Recomendo fortemente a leitura. Mas a mensagem com a qual gostaria de encerrar meu post de hoje é a seguinte: a luta dos brasileiros de agora em diante é ter EM CADA SALA DE AULA do Brasil um professor com essas características.

ISSO É A TAL EDUCAÇÃO PADRÃO FIFA que as massas pediram nas ruas em 2013. O resto é enrolação!

2 Respostas

  1. Você tem como disponibilizar o link do artigo completo?

  2. Paulo Raimundo Pereira Santos | Responder

    Profªs. Ilona e Paula

    Agradeço o envio do texto.

    Vou divulgar, como sempre faço.

    Att,

    Paulo Pereira

    Maracanã – Rio – RJ

    ________________________________

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