Arquivos Diários: 1 junho, 2016

Comissão de Educação da Câmara dos Deputados debate a BNCC

Ontem (31/5), na Câmara dos Deputados, a Comissão de Educação iniciou um ciclo de debates sobre a Base Nacional Comum Curricular. Segue abaixo o link para o evento, inclusive com as apresentações (em ppt) de quem se dispôs a fazê-lo, como eu.

Este é o resumo que a Câmara preparou sobre o evento, de onde se pode baixar as apresentações em ppt, incluindo a minha.

http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/ce/noticias/programacao-para-o-ciclo-de-debates-sobre-o-bncc-dos-dias-31-05-e-02-06

Lamentável o nível das discussões. Alguns convidados foram lá apenas para falar para suas bases, o que até é normal em um contexto de discussão política, mas não deixa de ser reprovável, pela oportunidade que se perde de fazer uma interlocução séria e relevante que faça o tema avançar. Não acho que seja nem atribuição, nem a melhor opção para desenhar essa importante política pública que é o currículo, debatê-la no Congresso. Mas mostra que há um interesse em saber o que foi fabricado em relação ao tema durante os últimos governos, uma vez que há importantes críticas aos documentos até aqui divulgados.

Além da superficialidade das intervenções, o assunto” Escola sem Partido” dominou o cenário com suas duas vertentes patéticas: os órfãos do poder procurando assunto para se manter nas paradas de sucesso e os radicais do conservadorismo também agitando o ambiente para marcar posição. Falarei algum dia sobre esse assunto inútil e irrelevante, mas que tem ocupado espaço de ouro no debate que deveria, prioritariamente, oxigenar o ensino da Língua Portuguesa e da Matemática.

Os alunos brasileiros hoje mal aprendem a ler e a escrever. Muitos deles saem da escola antes de cumprir todas as etapas obrigatórias. Ao invés de irmos consultar os currículos e as reformas educacionais de países desenvolvidos, para saber o que andamos fazendo de errado e que opções existem para consertar, ficamos debatendo o sexo dos anjos.

Nesse sentido, a melhor intervenção, a que me pareceu mais honesta e pertinente, foi a do Dep. Eduardo Cury, do PSDB de SP (ele foi Prefeito de São José dos Campos por 2 mandatos), que fez um “desabafo sobre a pouca ênfase que se dá à Língua Portuguesa e à Matemática”, que deveríamos “parar tudo e centrarmos” nas duas disciplinas para formar “uma boa base para se aprender as outras coisas”. Disse o Deputado: “Eu sinto vergonha do que ensinamos de Português e de Matemática. Nós fugimos disso porque é muito mais difícil formar um professor de Português e Matemática do que ficar inventando um monte de coisas paralelas, é muito mais barato para o poder público fazer.”

Mas melhor ainda foi o que ele disse sobre a “hipocrisia da classe política: quando nós, a classe política, ganhamos um salário de 25 mil Reais, que é o que um deputado ganha, nós deixamos de ser de esquerda, pegamos nossos filhos e os colocamos na escola privada, porque teoricamente achamos que lá é o melhor para o meu filho. Mas na hora de consultar e ouvir quem tem o melhor sistemas de ensino, a gente não pode consultar por ideologia.”

E continuou:  “Essa decisão da classe política tem que ser a mesma decisão que eu tomo quando estou dentro da minha casa, quando eu tomo a decisão para os meus filhos eu tenho que também fazer para o público: não faça no público aquilo que você não faz na sua casa.”

Este é o link para os vídeos de todas as intervenções, inclusive dos debates, onde aparece a intervenção do Dep. Eduardo Cury: http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/ce/videoArquivo?codSessao=56336

E este é o link para baixar o vídeo dele: http://vod2.camara.gov.br/cod/rest/download?p=nul3vmxygwkazfby–uvfa&d=1

É isso, as pessoas que defenderam a alfabetização aos 8 anos para o filho DOS OUTROS normalmente têm os seus na escola privada, onde a alfabetização se dá logo no início da escolarização. A BNCC foi feita para não funcionar, para não incomodar quem forma os professores que sabem pouco sobre o que e como ensinar, mas que se sentem à vontade para apresentar suas convicções políticas para seus alunos. Parece que vivemos um momento de questionar tudo. Pode ser que isso atrapalhe o desenho da BNCC. Vai depender do senso de urgência e do compromisso do MEC com um documento que equipare os filhos e netos de seus quadros técnicos aos filhos e netos dos trabalhadores e servidores de escalão mais baixo. A ver…