Mais uma troca de Ministro da Educação
Os 4 mandatos do PT no Governo Federal em termos de educação não foram exatamente marcados pela estabilidade de suas cabeças… o troca-troca piorou com Dilma Rousseff. Estamos, portanto, acostumados a comentar trocas de Ministros da Educação. Considero perda de tempo fazer contabilidade, é uma constatação fácil de se verificar em tempos de Google.
A novidade deste caso é que veio junto com uma troca não programada de Presidente! Já tive oportunidade de comentar na CBN que a parceria do(a) Presidente com seus ministros é fundamental para que as políticas públicas de qualquer área possam avançar: o apoio político do chefe é essencial. No Governo Federal, nos estaduais e nos municipais, o chefe do executivo obviamente deve apoiar seu (ua) designado (a) para a gestão da Educação, como em todas as demais pastas. O Presidente em Exercício dá indicações de que vai dar mais autonomia a seus comandados e que se alguém se meter em confusão, vai ter que sair. Vamos ver o quanto dura essa animação toda!
O novo Ministro, Mendonça Filho (José de Mendonça Bezerra Filho), não é um especialista em educação, mas nenhum dos Ministros desde Paulo Renato Souza, era oriundo da área. A outra novidade nesta transição é a presença de Maria Helena Guimarães de Castro na Secretaria do Ministério, o que é uma excelente notícia, dado seu currículo profissional profundamente ligado à educação pública.
Outra questão que pontuou este começo de novo governo na área da educação foi o debate sobre o escopo do Ministério, se com ou sem a área da Cultura. Considero inócuo. Dou 3 exemplos de Secretarias de Educação Estaduais que englobam temas complementares:
No Acre, a Secretaria de Educação também é responsável pela área de Esportes: Secretaria de Estado de Educação e Esporte; Em Santa Catarina, a Educação está separada, mas a Secretaria de Cultura está junto com a de Turismo e Esporte e no Rio Grande do Norte, também temos uma Secretaria da Educação e da Cultura. Muitíssimos municípios pelo País contam com secretarias que operam as pastas de educação, esportes, cultura, lazer e turismo de alguma forma combinada. Não conheço nenhum estudo que demonstre que alguma área saia prejudicada por causa desse tipo de solução administrativa.
Mas, vamos ao que interessa: o que esperar do novo Ministro?
- Terminar de elaborar o documento da Base Nacional Comum Curricular, impondo o mesmo rigor acadêmico e progressão existentes em países desenvolvidos. Inútil comparar com a primeira versão, que era apenas um bode enorme e mal-cheiroso na sala. A segunda versão do documento, apresentada logo antes da suspensão da Presidente Dilma, ainda não materializava esse tipo de intenção, mas, pelo menos, parava de pé (ver meu comentário neste blog)
- Com base em uma nova concepção do que os alunos de todas as escolas do Brasil devem aprender, reestruturar a formação docente. Um processo interno do MEC já estava em andamento desde o segundo semestre de 2015 no sentido de tornar a formação docente inicial e continuada mais voltada para a competência de ensinar, fugindo da lógica ainda vigente de mergulhar os candidatos a professores em teorias da Sociologia e Filosofia, que quase não têm utilidade na hora de ensinar
- O novo currículo também terá impacto na avaliação dos alunos, o que permite monitorar seu direito a aprender não só o básico, mas a compreender e interagir com temas e proposições complexas, que é o que os países desenvolvidos estão implementando em seus sistemas de ensino. O MEC já tinha anunciado mudanças no sistema de avaliação, mas em relação à criação de novos indicadores para monitorar a qualidade do ambiente de ensino. Será necessário mudar o nível de exigência do que vai ser aferido nas provas padronizadas nacionais
- O novo currículo ainda vai ter grande impacto no Programa Nacional do Livro Didático, pois os livros entregues às escolas deverão refletir os novos objetivos pedagógicos propostos.
Se o Ministro conseguir fazer andar com competência esses 4 processos fundamentais, já terá sido um excelente governo em termos de educação, mesmo que o lema não seja mais Pátria Educadora. Se conseguir fazer tudo isso com muita ordem e muito progresso, melhorando o que foi deixado por Aloízio Mercadante e todos os demais que o antecederam, o Brasil pode voltar a sonhar com um futuro melhor.