Arquivos Diários: 2 março, 2015

Regimento e cultura organizacional na escola: um não vive sem o outro (parte 1)

Problemas de disciplina e as escolas. O Brasil tem um dos ambientes escolares mais desorganizados do mundo. O que fazem os sistemas mais organizados?

Ouça aqui o áudio do boletim que foi ao ar dia 9/2/2015 sobre este tema.

O que já tinha sido demonstrado por um estudo comparativo do Prof. Martin Carnoy, da Universidade Stanford, no início dos anos 2000 que deu origem ao livro ” A vantagem Acadêmica de Cuba”, foi confirmado e detalhado pelo relatório preliminar Talis 2013 – Teaching and Learning International Study, que saiu no fim de 2014: os professores brasileiros passam boa parte do tempo de aula tentando acalmar a turma. Isso se dá porque as escolas brasileiras, mesmo as privadas, são muito instáveis institucionalmente. As relações entre as pessoas no ambiente escolar se dão de forma aleatória e a forma mais usual de institucionalizar as relações é pela seleção natural, não pela incorporação de normas claras e eqüitativas – fica quem já vem de casa com comportamento alinhado com o da escola, quem não vem não é “aculturado” por uma instituição escolar sólida, que conhece e fomenta uma cultura organizacional competente.

Fiz uma busca nos sites de algumas das melhores escolas privadas do Rio e de São Paulo. (depois do boletim do dia 9/2/2015, um atento ouvinte da rede de escolas Maristas me informou que as escolas da rede contam com o seu E QUE estão disponível nos sites das escolas – veja aqui um exemplo – a parte sobre a avaliação docente e sobre a disciplina escolar, que estão mais alinhadas com este tema, está nas páginas finais do documento). É raro achar um regimento escolar que esteja disponível no site e que faça parte da estratégia de marketing da escola, apesar de regimento ser o verdadeiro DNA da escola (e não seu prédio e instalações), é uma peça esquecida por muitas. Deve ser muito difícil acontecer de um pai pedir para conhecê-lo antes de fazer a matricula de filho, pois as escolas o tratam apenas como um apêndice jurídico e os pais nem sabem que ele existe. Acontece que o regimento é um excelente instrumento de comunicação de uma comunidade escolar. É a base para a criação e consolidação de uma cultura organizacional própria.

Quando bem feito, é pelo regimento que se percebem-se as prioridades da escola e sua forma de lidar com alunos e professores.  Por exemplo, os critérios de avaliação tanto discente quanto docente, devem estar claramente descritos no documento. Um dos assuntos que costuma ser esquecido são as regras de convivência – o que é aceitável e o que não é para aquele determinado grupo de pessoas. Não basta dizer que a escola respeita a diversidade, é preciso ir além e dizer que, por exemplo, apelidos dados por terceiros não são admitidos, cada aluno e professor escolhe como quer ser chamado. A abordagem eventos comuns como distrações em sala de aula, “cola” e bullying, devem estar previstos em termos de sua tipificação e correção.

Na minha opinião, a explicação para as escolas brasileiras raramente terem um regimento competente é simples e a de sempre: ideologia e ignorância. Há uma certa percepção no Brasil, relacionada a uma ideologia que se julga progressista, de que regras claras são “entulhos autoritários” e que a educação legal é aquela que é espontânea. Por outro lado, há a ideologia conservadora que acha que a escola boa é a que exclui o máximo de gente possível: quanto mais seletivo, melhor. Ambas são equivocadas e antagônicas ao que seja uma escola de qualidade, que acolhe alunos de origens diferentes e os introduz ao mundo institucionalizado no qual todos têm as mesmas obrigações e direitos e cujas relações interpessoais em seu ambiente são necessariamente cordiais e respeitosas.

Com essa ignorância como base, é natural que a comunidade escola fique perdida. Alunos com celulares vendo filmes pornográficos no fundo da sala, bullying na hora do recreio e na internet, beijos escancarados no corredor. Nenhum desses comportamentos é aceitável em um ambiente de trabalho, por exemplo. Porque seria em uma escola?

Seguem os exemplos das escolas estrangeiras

Escolas portuguesas

Clique para acessar o regulamento_interno_2013_14.pdf

Ao professor compete:

  • Respeitar os outros, nomeadamente os seus pares, estabelecendo com todos relações de cordialidade e lealdade que excluem o individualismo, a crítica fácil e inconsequente e a quebra de sigilo profissional;
  • Fomentar um clima de boa relação e ajuda dentro e fora da aula, privilegiando o diálogo com todos os intervenientes no processo educativo;
  • Ajudar o Aluno a tornar-se agente ativo do seu próprio crescimento, desenvolvendo nele capacidades de raciocínio, investigação e análise crítica;

http://www.cscm-lx.pt/pagina/regulamento-interno

1) Ser tratado com respeito e correção por qualquer membro da comunidade educativa, não podendo, em caso algum, ser discriminado em razão da origem étnica, saúde, sexo, orientação sexual, idade, identidade de género, condição económica, cultural ou social ou convicções políticas, ideológicas, filosóficas ou religiosas;

Escola britânica em SP

http://www.stpauls.br/school-policies/16295.html

Academic Honesty in the Pre-Prep and Prep Schools In the Pre-Prep and Prep we follow The Golden Rules:

  • We are honest, we don’t cover up the truth
  • We listen to people, we don’t interrupt.
  • We are gentle, we don’t hurt others.
  • We are kind and helpful, we don’t hurt anybody’s feelings.
  • We work hard, we don’t waste time.
  • We look after property, we don’t waste or damage things.

Bullying:

Definition of Bullying: Bullying is the willful, deliberate desire to hurt, threaten or frighten someone else. It is not a one off act, but behaviour that is repeated over time. We believe that people demonstrate bullying or unacceptable behaviour, rather than are bullies. As such, we work to help raise the self esteem of the person demonstrating such behaviour, (low self esteem has been linked very closely to bullying behaviour), and help them to find strategies to cope, without resorting to humiliating others or hurting them. The main types of bullying are: 1) Physical- hitting, kicking, pushing, and damaging another’s belongings. It also includes the deliberate exclusion of a person from a game or activity 2) Verbal- name calling, teasing, talking about another person, criticising their character or values or spreading rumours about them, with the desire to make them feel bad or unhappy. 3) Electronic or `cyber` bullying; sending hurtful or spiteful emails, msns, text messages or phone calls.

Escola francesa em SP

Clique para acessar o normas_escolares_2015.pdf

O aluno deverá ter bom comportamento em todas as dependências da Escola, respeitar colegas, professores e funcionários, ter postura adequada e utilizar vocabulário próprio ao ambiente educacional. AGRESSÕES FÍSICAS OU MORAIS E PALAVRAS DE BAIXO CALÃO, BEM COMO ATOS QUE VENHAM A CARACTERIZAR BULLYING SÃO PASSÍVEIS DE PUNIÇÃO. Manifestações ostensivas de namoro, também.