MEC citando Sobral x CNE: um arremedo de vontade política sendo atacado pelo corporativismo desavergonhado
É chocante, mas ainda tem gente que, em plena luz do dia e ocupando cargo público, tem coragem de defender a escravatura cognitiva de crianças pobres.
Leiam esta notícia sobre a disputa do MEC com o CNE sobre a alfabetização, cujos destaques mostro a seguir:
Enquanto o MEC só tem coragem suficiente para dizer que o aluno vai estar alfabetizado até o fim do 2º ano do Fundamental, quando seus pares de países desenvolvidos já chegam ao 1º ano (quando estão por volta dos 6 anos) praticamente alfabetizados, apenas consolidando alguns processos, como ler palavras mais longas e desconhecidas e escrever textos usando palavras conhecidas escritas com correspondência fonética, o CNE resolve brincar de fazer oposição ao Governo Temer, jogando para sua própria claque inconformada e usando o interesse das crianças brasileiras como escudo.
Abaixo segue a posição do MEC, declarada por sua Secretária Executiva, Maria Helena Guimarães de Castro.
“Defendemos a alfabetização até o final do 2º ano, quando a criança tem 8 anos. A posição do CNE é diferente, mas por enquanto não há nenhuma decisão tomada.”
Vejam a posição do CNE:
O conselheiro do CNE Cesar Callegari reafirma que ainda não houve deliberação, mas este é um ponto de discordância. “O CNE não deliberou a respeito disso. É um tema que está sendo levantado nas audiências públicas, mas ainda vamos produzir pareceres que vão a voto. O CNE é contrário [à alfabetização no 2º ano], mas não houve deliberação. O assunto está em discussão.”
Como é que é, cara pálida?? O CNE é contrário à alfabetização ser concluída no 2º ano?? Baseado em que tipo de dado, informação, pesquisa??
Bom, eu também sou, mas porque as pesquisas e os dados de avaliação mostram que a maioria das crianças dos países desenvolvidos E AS CRIANÇAS QUE TÊM A SORTE DE MORAR EM SOBRAL, NO SERTÃO DO CEARÁ, APRENDEM, entre os 5 e 6 anos de idade, a decodificar as letras e sílabas, a compreender o que leem, a redigir textos simples e que fazem sentido para elas e seus pares!
Essa posição de deixar para os pobres o rebotalho é a cara da sociedade arcaica brasileira da qual queremos nos livrar. Que o CNE venha defender essa posição com base nos dados e no que se pratica em países desenvolvidos, civilizados e mais igualitários, que é o que a população brasileira quer ser um dia. Dizer que é contra porque os municípios vão reprovar as crianças é um argumento tosco: as crianças são reprovadas porque não sabem ler e, muito menos, escrever, mesmo em séries mais avançadas!
O que o CNE está tentando resguardar é o interesse de sindicatos de professores que não querem níveis mais ambiciosos de desempenho discente, porque isso fará todo mundo trabalhar mais e exporá seu despreparo garantido por escolas de professores que são máquinas de emitir diplomas ou de fazer lavagem cerebral. Com essa posição, o CNE defende também boa parte dos acadêmicos que usam de suas “pesquisas” com rigor metodológico suficiente apenas para sustentar suas posições politico-técnicas e de suas bibliografias mofadas e totalmente ultrapassadas, para garantir que ninguém tenha coragem de se interpor ou desmascarar suas “verdades” com dados empíricos e atualizados.
A matéria reproduz a posição chocante de “especialistas” que dizem:
Está em jogo, segundo especialistas, o embate entre usar os anos do ensino infantil para atividades lúdicas que estimulam os pequenos a reconhecerem sua identidade e se interessarem em aprender sobre o mundo, ou para estimular o aprendizado conteudista, visto por muitos adultos como sinônimo de sucesso profissional.
É só ler as publicações mais recentes sobre como as crianças aprendem e como se ensina educação infantil que se percebe que NÃO EXISTE MAIS A DICOTOMIA brincar x aprender, pois a concepção desta etapa é aprender brincando. O pior é que as pessoas que falam esse tipo de barbaridade usam pele de cordeiro – são modernas e progressistas, só querem limitar o que as crianças POBRES podem aprender para o bem delas. Educação infantil de qualidade custa caro, o dinheiro vai sair da pós graduação e vai para as salas de aula dos pobres: é isso que incomoda. Nada mais…
Que tal esta lista de referências para pelo menos os jornalistas entenderem do que estamos falando?
Clique para acessar o EL2013ResourceList.pdf
Que tal estre trecho do Programa de Pre-escola de Ontário:
Play is a vehicle for learning and rests at the core of innovation and creativity. It provides opportunities for learning in a context in which children are at their most receptive. Play and academic work are not distinct categories for young children, and learning and doing are also inextricably linked for them. It has long been acknowledged that there is a strong link between play and learning for young children, especially in the areas of problem solving, language acquisition, literacy, and mathematics, as well as the development of social, physical, and emotional skills (NAEYC, 2009; Fullan, 2013; Ontario Ministry of Education, 2014c).
Young children actively explore their environment and the world around them through play. When children are exploring ideas and language, manipulating objects, acting out roles, or experimenting with various materials, they are engaged in learning through play. Play, therefore, has an important role in learning and can be used to further children’s learning in all areas of the Kindergarten program.