Edição de março de 2013 – A educação na primeira infância

É de pequenino que se torce o pepino, diz a sabedoria popular. Nas últimas décadas, a neurociência e a psicologia mostraram que as crianças muito pequenas já estão preparadas para interagir com o mundo que as cerca, bem diferente da época em que eram consideradas seres passivos, podendo agora participar de forma consciente do processo de “enquadramento” social esperado de famílias e de escolas.

Podemos dividir esse processo em três etapas, imprescindíveis para o sucesso da educação escolar na primeira infância: os estímulos e cuidados com os bebês, o início do processo de socialização e a introdução de habilidades cognitivas e de conteúdos além do universo infantil.

Admite-se hoje que, desde muito cedo, os bebês já são capazes de reconhecer figuras, sons e estímulos sensoriais que serão de fundamental importância para o desenvolvimento de seu cérebro nos anos posteriores. Por outro lado, o chamado “stress tóxico” que decorre de choques emocionais e físicos, sem a compensação de um ente querido ou protetor, é tido como uma condição que inibe o desenvolvimento cerebral de crianças muito novas. Assim, a primeira noção que devemos ter em relação ao futuro educacional das crianças é a importância de protegê-las desse stress deletério e estimulá-las, de forma proativa e equilibrada, desde o nascimento. Para isso, um acompanhamento materno-infantil (público ou familiar) de alta qualidade é crucial.

Em relação ao processo de internalização de valores e comportamentos, mesmo que anteriores aos da escola, quer no âmbito familiar ou nas creches, já podemos começar a introduzir noções e práticas, como mostrar respeito ao próximo (independentemente de sua condição social ou aparência), interagir cada vez mais racionalmente (e menos fisicamente) nas situações de conflito, alimentar-se de forma saudável, dormir em horários regulares, ter apreço por sua higiene pessoal, saber esperar, submeter-se a regras, conviver com as frustrações e exercitar o autocontrole. Possivelmente eram essas as habilidades que nossos avós tinham em mente quando faziam alusão à metáfora do pepino pequenino.

Provavelmente, pela forma muitas vezes abusiva e restritiva com que esses hábitos eram introduzidos nas vidas das crianças, esse tipo de “treinamento” foi considerado uma forma de recalcá-las. Assim, olaissez-faire ganhou um espaço desproporcional nas vidas das famílias e das escolas, tornando as etapas posteriores da educação um verdadeiro pesadelo para quem tinha que recuperar esse modelo de comportamento, levando muita gente até a desistir desse tipo de desafio.

Portanto, os comportamentos considerados cidadãos, respeitosos e constituintes da auto estima e autonomia infantil devem também ser introduzidos o quanto antes em suas vidas, mas de forma interativa e propositiva, para que os compreendam e incorporem-nos voluntariamente.

A etapa mais complexa é a do desenvolvimento cognitivo e da introdução de conteúdos alheios ao universo restrito das crianças pequenas. A complexidade tem relação com o processo de escolha das atividades e as informações a que os pequeninos serão expostos, e a forma de fazê-lo. Uma vez que a quantidade, diversidade, qualidade e capacidade para contribuir para o desenvolvimento infantil do que existe à disposição de crianças, suas famílias e seus educadores é infinita, separar aquilo que é prejudicial ou benéfico para as cabecinhas em formação não é tarefa fácil. Até porque, todo esse conhecimento e acesso a matérias educativas (ou pseudo), deixou de ser restrito aos profissionais da educação. Há pressão de pais e de força de vendas entrando por todas as frestas. Os instrumentos digitais tornaram essa invasão ainda mais competente.

Alguns princípios pedagógicos podem ajudar nessa seleção. As atividades que mais beneficiam o desenvolvimento físico, social, afetivo e cognitivo de crianças pequenas são as que promovem a interação respeitosa com adultos e com outras crianças, a capacidade de se expressar oralmente e estabelecer diálogo, de desenvolver habilidades motoras finas (além de seu esqueleto e musculatura), de compreender a relação entre a escrita e a obtenção de informações e de divertimento e a expansão de referências e de vocabulário.

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