Empatando a evolução da educação brasileira….

Comento hoje aqui a notícia da Folha de S. Paulo do dia 14/6/2017 sobre o edital do PNLD- 2019, que prevê a compra de livros para PROFESSORES  da educação infantil e ESTUDANTES e PROFESSORES dos anos iniciais do ensino fundamental (1º ao 5º ano) das escolas públicas federais e as que integram as redes de ensino federal, estaduais, municipais e do Distrito Federal, antes da aprovação final da BNCC.

Gostaria de lembrar um post deste blog, de 8/5/2017, de no qual (sobre uma matéria do Jornalista Fábio Takahashi, da mesma FSP, que mostrava o risco da BNCC enfrentar os problemas vividos na implementação do Common Core no estado de Nova Iorque), eu textualmente escrevi:

“O MEC, agora sob nova gestão, pode lançar mão de mecanismos que estão sob a sua responsabilidade para induzir a qualidade. Esses mecanismos centralizados não estão disponíveis nos EUA e é por isso que declarei no terceiro parágrafo acima que não estamos necessariamente fadados a seguir os passos das experiências negativas de alguns estados dos EUA. O PNLD, as diretrizes nacionais de formação em Pedagogia e nas Licenciaturas, o Enade desses cursos, o concurso nacional de certificação docente (engavetado pelo ancien régime), as Provas Nacionais como ANA e Prova Brasil, além do Enem são exemplos de programa nacionais de caráter indutor de qualidade, mas subutilizados até aqui. A questão é que, como nos EUA, no Brasil há muita gente poderosa contra uma subida de barra substancial, poque ela custa caro, tira poder de subgrupos poderosos e dá muito mais trabalho para escolas e famílias.”

E falei sobre a matéria e o assunto na CBN. Ouçam aqui.

Pois não é que os corporativistas de plantão já começaram a atacar o MEC, na sua tentativa justamente de usar de suas atribuições constitucionais para induzir o avanço da BNCC nas salas de aula brasileiras??

Vejam o que diz a matéria:

O entrave é que o CNE pode mudar o texto. Um dos pontos refere-se, por exemplo, à meta de alfabetização, definida pelo governo atual para o 2º ano. Um grupo de educadores defende manter o ciclo de alfabetização até o 3º ano.

Possíveis alterações serão discutidas em audiências públicas entre julho e setembro. O conselho promete finalizar o processo ainda neste ano.

Presidente da comissão que avalia a base no CNE, Cesar Callegari diz reconhecer a necessidade de o MEC ter livros para o começo de 2019, mas questiona esse formato.

“Considero uma temeridade se referir a uma Base que ainda não existe”, diz. “O documento encaminhado ao CNE sofrerá modificações e aperfeiçoamentos.”

Infelizmente, ainda tem gente que quer manter os filhos – dos outros, dos pobres – na ignorância. É revoltante!

A BNCC (mesmo que com algumas falhas) teve o mérito de incluir na educação infantil a sinalização da obrigatoriedade de se iniciar o processo de alfabetização. Foi incluído um eixo de Oralidade e Escrita, com habilidades que deixam claro (embora não organizem tão bem quanto o currículo de Sobral, por exemplo (e os de UK e Ontário, abaixo) que os alunos podem e devem aprender desde os 4 anos de idade, para iniciar o processo de alfabetização:

Expressar ideias, desejos e sentimentos sobre suas vivências, por meio da linguagem oral e escrita (escrita espontânea), de fotos, desenhos e outras formas de expressão.

Inventar brincadeiras cantadas, poemas e canções, criando rimas, aliterações e ritmos.

Escolher e folhear livros, procurando orientar-se por temas e ilustrações e tentando identificar palavras conhecidas.

Recontar histórias ouvidas e planejar coletivamente roteiros de vídeos e de encenações, definindo os contextos, os personagens, a estrutura da história.

Recontar histórias ouvidas para produção de reconto escrito, tendo o professor como escriba.

Produzir suas próprias histórias orais e escritas (escrita espontânea), em situações com função social significativa.

Levantar hipóteses sobre gêneros textuais veiculados em portadores conhecidos, recorrendo a estratégias de observação gráfica e de leitura.

Identificar gêneros textuais mais frequentes, recorrendo a estratégias de configuração gráfica do portador e do texto e ilustrações nas páginas.

Levantar hipóteses em relação à linguagem escrita, realizando registros de palavras e textos, por meio de escrita espontânea.

A BNCC, mesmo com algumas falhas estruturais importantes, é sim um salto para a educação brasileira e o PNLD é o meio mais rápido para levá-la para a sala de aula. É o que temos para o momento e não é pouco. Além do currículo de Sobral, se alguém quiser verificar o que os alunos de mesma faixa etária aprendem no Reino Unido, aqui vai o link para o currículo de educação infantil:

http://webarchive.nationalarchives.gov.uk/20040117082828/dfes.gov.uk/foundationstage/

No qual está previsto, por exemplo:

Speak clearly and audibly with confidence and control and show awareness of the listener, for example by their use of conventions such as greetings, ‘please’ and ‘thank you’

Hear and say initial and final sounds in words, and short vowel sounds within words
Link sounds to letters, naming and sounding the letters of the alphabet.

Use their phonic knowledge to write simple regular words and make phonetically plausible attempts at more complex words.

Retell narratives in the correct sequence, drawing on language patterns of stories
Read a range of familiar and common words and simple sentences independently
Know that print carries meaning and, in English, is read from left to right and top to bottom
Show an understanding of the elements of stories, such as main character, sequence of events, and openings, and how information can be found in non-fiction texts to answer questions about where, who, why and how

Use their phonic knowledge to write simple regular words and make phonetically plausible attempts at more complex words 

Attempt writing for different purposes, using features of different forms such as lists, stories and instructions

Write their own names and other things such as labels and captions and begin to form simple sentences, sometimes using punctuation

E o mesmo para o currículo de educação infantil da Província de Ontário no Canadá, no qual se prevê, por exemplo, que os alunos:

10.1 demonstrate an interest in writing (e.g., choose a variety of writing materials, such as adhesive notes, labels, envelopes, coloured paper, markers, crayons, pencils) and choose to write in a variety of contexts (e.g., draw or record ideas in learning areas)
10.2 demonstrate an awareness that text can convey ideas or messages (e.g., ask the
educator to write out new words for them)

10.3 write simple messages (e.g., a grocery list on unlined paper, a greeting card made
on a computer, labels for a block or sand construction), using a combination of
pictures, symbols, knowledge of the correspondence between letters and sounds (phonics), and familiar words

10.4 use classroom resources to support their writing (e.g., a classroom word wall that
is made up of children’s names, words from simple patterned texts, and words used
repeatedly in shared or interactive writing experiences; signs or charts in the classroom;
picture dictionaries; alphabet cards; books)

11.1 demonstrate an interest in reading (e.g., expect to find meaning in pictures and text; choose to look at reading materials; respond to texts read by the educator team; reread familiar text; confidently make attempts at reading)
11.2 identify personal preferences in reading materials (e.g., choose fiction and non-fiction books, magazines, posters, or computerized interactive texts that they enjoy) in different contexts (e.g., educator team read-alouds, shared experiences in reading books,
independent reading time)

Nesta semana, de 19 a 22/6 de 2017, o Programa de Alfabetização e de Aprendizagem da Idade Certa (respectivamente PAIC e PAIC+) comemoram 10 anos, com grande conquistas a celebrar. Os alunos do Ceará estão se sobressaindo nas avaliações nacionais e estaduais, desde a alfabetização até o final do ensino fundamental. A matriz de referência do SPAECE – Alfa, avaliação padronizada estadual que afere o andamento da avaliação no Estado do Ceará, apresenta os parâmetros da alfabetização no Estado. Os resultados do SPAECE – Alfa evidenciam que, em 2015, todos os municípios cearenses estão alfabetizando plenamente praticamente todas as suas crianças até o 2º ano. Este processo tem início na educação infantil. Não tem conversa, não tem enrolação: é o direito do aluno à frente dos interesses de acadêmicos e sindicalistas. Uma conquista do povo cearense, que está de parabéns!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Uma resposta

  1. Obrigada por me informar sobre a triste situação da educação brasileira
    Quando achamos que irá melhorar, novos obstáculos surgem!!!

Obrigada por enviar seu comentário objetivo e respeitoso.